Pages

domingo, 20 de dezembro de 2015

O TRIO DO FINAL DE ANO

As ultimas leituras de 2015 foram densas, foram os livros com poucas páginas que mais demorei a ler. Fica até difícil até escrever a respeito de cada um dos livros.



Homossexualidade - Perspectivas Cristãs
Um copilado de artigos sobre a igreja e a homossexualidade.
O mais incrível do livro, assuntos abordados na década de 1970 que estão sendo debatidos agora no Brasil, e sem a lucidez tratada no passado. Alguns segmentos da igreja são mesmo retrógrados, principalmente aqui.
Fonte Editorial - 184 páginas







Protestantismo Tupiniquim
Gedeon Alencar faz uma analise sobre as marcas do protestantismo e sua influencia na cultura brasileira. Do contexto histórico ao modismo do "gospel" ele desenrola com simplicidade e graça as hipóteses sobre a não contribuição do protestantismo em nossa cultura.
Arte editorial - 160 páginas






Beatitudes - As bem-aventuranças
A transcrição de 5 mensagens sobre o sermão do monte, realizadas por João Calvino entre 1561 e 1564. Questões teológicas a parte, foi incrível perceber como as pregações foram usadas para manipular opiniões e moldar o senso comum protestante. Recomendo a leitura não por considerar uma pregação inspiradora, mas para que percebam que quase nada mudou. #triste
Fonte Editorial - 120 páginas





Que venha 2016 e mais leituras.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A VIDA É UM RISCO

A vida é um risco
Risco de a qualquer momento morrer
Risco de adoecer
Risco de com todos os riscos viver

Risco de se casar
Risco de não casar
De casar com a pessoa certa
De casar com a pessoa errada
De viver feliz pra sempre
Risco de se separar

Risco de trabalhe com o que gosta
De trabalhar com o que odeia
De ganhar muito dinheiro
De ganhar só o sustento
Risco de não trabalhar

Risco de conquistar um diploma
De bombar, pegar exame
De trocar os cursos
De decidir já na velhice
Risco de não estudar

A vida é um risco
Risco de crescer,
de amadurecer, de viver adolescente
Risco de mesmo adulto ser inconsequente.
Risco de ver a vida passar
De não aproveitar nada
De se lamentar
Risco aproveitar exageradamente
Sexo, drogas, baladas, vida louca
Risco da vida estragar

Risco viver intensamente
Loucuras e prazeres
Santidade e deveres
Risco de ser livre

A vida é um risco
Do medo de errar
Do prazer de arriscar
Da coragem de não desistir
Da ousadia ao persistir

Viver é arriscar
Arriscar ser feliz
Arriscar sorrir
Arriscar sofrer
Arriscar doer

Arriscar ...Ar riscar... A riscar
E escrever uma historia bonita.
Que é viver.

domingo, 6 de dezembro de 2015

MATURIDADE - O SALTO-ALTO QUE DEUS NÃO TINHA

Um tema pouco falado hoje na igreja e que volta e meia me persegue é a maturidade, o efeito daqueles que atingiram o completo desenvolvimento de suas faculdades biológicas, comportamentais(psicológica) e espirituais. No que se refere a maturidade biológica, suas características são notadas: menstruação, crescimento da mama para as meninas, alteração da voz, crescimento dos pelos para os meninos, são alguns exemplos. Entretanto, é perceptível também que este processo não é igual em todos os seres, podemos ter desenvolvimento precoces e ou atrasado. A idade cronológica não é necessariamente a mesma da idade biológica.

A maturidade comportamental, surge das experiências do nosso dia-dia, através da forma com que enxergamos e respondemos as contingencias da vida. É o desafio de viver e se reconhecer no mundo como parte atuante e não apenas como parte existente e inerte. Já a maturidade espiritual, longe de ser experiências sobrenaturais e sobre-humanas, é manifestar no chão da vida, tudo o que se aprender, acredita e experimenta de Deus e com Deus. 

Vejo nas escrituras uma série de processos de amadurecimento comportamental e espiritual. Deus comunga deste processo conosco desde o Éden, como um pai-psicólogo, investindo no ser-humano para que este tenha responsabilidade por suas ações e capacidade para lidar com as contingências do mundo sem se perder ou melhor sem se desumanizar. Analogias não faltam, mas vou me prender apenas em três: Criação, Cristo, e Igreja.

1. Criação:

"Então, o Eterno plantou um jardim no Éden, e ali pôs o homem (...) o Eterno levou o homem para o jardim, para que cultivasse o solo e mantivesse tudo em ordem" - Gênesis 2:6 e 15.

Os processos de desenvolvimento comportamental de uma criança passa pela imitação dos adultos ao seu redor. Ela é como uma esponja que absorve e reproduz tudo: atitudes, expressões, vocabulário e até sentimentos sem o menor juízo de valores. Criança vê, criança faz. É a educação pelo exemplo. Muitas vezes me pego pesando, onde é que Deus estava com a cabeça quando colocou duas crianças para cuidar de um jardim. Adão e Eva tinham acabado de nascer, embora seus corpos demonstrassem a plenitude da maturidade, não se podia esperar muito de seu comportamento. Porém, o plano pedagógico de Deus eram modernos para a época, e Nietzsche concorda com Ele:

"O homem chega à sua maturidade 
quando encara a vida com a mesma seriedade 
que uma criança encara uma brincadeira." 

Sabiamente, Deus pede ao homem que dê nome a todos os animais. Algo que para um adulto (maduro) levaria três eternidades e meia apenas para chegar a algum consenso. Passaríamos horas a elogiar ou criticar cada um dos animais: "A zebra é branca com listas pretas ou é preta com listas brancas?"; Algo que para uma criança não tem sequer importância. A inocência em seu olhar a permite ver apenas a beleza pelo encantamento da "primeira vez".

"O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo..."
Alberto Caeiro

O jardim do Edén era o quintal onde Adão e Eva em sua infância mental, tinham tudo o que qualquer criança gostaria de ter. Criança gosta mesmo é de brincar: cheirar as flores e sentir a textura de suas pétalas brincado de bem-me-quer, ver as folhas voando com o vento, nadar nas águas gélidas do rio, correr sem direção, jogar-se na grama e ver formas inesperadas nas nuvens, subir em árvores, além de "conversar com os animais" quando não com amigos imaginários.

Pode parecer brincadeira de criança, mas o que a serpente fez com Eva foi justamente brincar de "se vestir como a mamãe" colocando não somente os vestidos, sapatos e acessórios, mas criando a necessidade de "ser como", e nisto, bem pode nos ajudar a famosa frase "Freud explica". Será Freud uma reencarnação da serpente?

O que Deus tinha que despertou tamanho desejo em Eva?
Deus não tinha saltos-altos, batons, vestidos ou maquiagens, tudo o que Eva poderia desejar hoje. Todavia, Deus tinha maturidade, era adulto, tinha "percepção da realidade (experiências de vida) e conhecimento para realizar juízo de valores (bem e mal)" - Gênesis 3:4 e 5.

E a morte?
Para nós serem humanos a morte começa quando chega a maturidade, Deus não mentiu.

A teologia estabeleceu que o pecado de Adão e Eva foi se rebelar conta Deus, fazendo sua própria vontade ao comer do fruto que era proibido. Minha questão não é esta.

As entrelinhas mostram que, o que ambos fizeram foi apenas desejar crescer, ser adulto, adquirir a maturidade do Pai, pois estavam extasiados com o que ele É, pelo encantamento da primeira vez. Porém quiseram fazer isto da forma mais fácil, sem adquirir responsabilidade que vem da experiencia do viver. Usaram o poder de escolha (livre arbítrio) para crescer antes da hora, Desconhecendo as reais consequências decidiram não aproveitar a vida e morrer antes do tempo. E ao perceberem o que tinham feito, mostraram claramente sua infantilidade:

  • Não pediram ajuda, antes fizeram roupas de folhas para si.
  • Tiveram medo e se esconderam, ao invés de encarar o comportamento incorreto.
  • Se acusaram mutuamente e acusaram a Deus, quando deveriam demostrar arrependimento.
Deus percebe que Adão e Eva ainda eram crianças e sua atitude é condizente com o que nossos pais fazem hoje: 
  • Os faz ter consciência do erro que cometeram.
  • Mostrou-lhes a real consequência de suas atitudes..
  • Acolhe e proteger, dando roupas de verdade.
A atitude de Adão e Eva e tipica de crianças e adolescentes, o desejo de ser adulto, da liberdade de ir e vir, de fazer o que quiser sem dar satisfação, não passa de uma ilusão infantil. E quando se deparam com a realidade, se frustram e passam a sua maioridade inteira desejando voltar atrás e ter a vida que tinham quando crianças, dependentes dos cuidados e manutenção dos pais, sem responsabilidades ou preocupações. Pessoas assim nunca se tornam plenamente adultos.

Fato é que em momento algum Deus se mostra este Pai irresponsável que dá tudo aos filhos esquecendo-se que isso um dia se voltará contra ele. Deus se ausenta, deixa que homem e mulher cumpram com suas responsabilidades - cultivar o solo e manter o jardim em ordem - e só retorna na viração do dia. Faz isso, pois quer que ambos construam sua maturidade na experiencia do viver, não através de leis, estatutos, proibições e ditames de certo ou errado. Nisto Freud tinha razão "A religião é comparável a uma neurose da infância" isto é, a incapacidade de lidar ou resolver conflitos internos ou externos de forma satisfatória, o que Paulo também condena:

"Assim, se com Cristo vocês deixaram para trás aquela religião pretensiosa e infantil,
por que agora se permitem intimidar por ela?
Não toqueis nisto! Não provem aquilo! Não cheguem perto daquilo!
(...) Ditas em voz alta, estas ordens podem impressionar. 
Chegam a parecer religiosas, evocando humildade e sacrifício.
Mas não passam de outra forma de autoprojeção de parecer importante."
Colossenses 2:20-23 


O risco que Deus correu ao corrigi-los, é o mesmo que os pais correm hoje em dia. A mesma brinca pode ter efeitos divergentes de acordo com a visão de mundo da criança: 1. Meus pais me amam e querem o melhor para mim, estão me ensinando a crescer. 2. Meus pais não me amam, por isso me podam e não me deixar fazer o que eu quero. Podemos ver esta visão em Caim, quando Deus o chama por causa de Abel. E a religião nasce deste sentimento, Deus não nos ama e esta pronto para nos punir, por isso, devemos fazer tudo para não deixá-lo mais zangado que já é.

Quem dera Eva não tivesse desejado apenas vestir os saltos-altos de Deus.

Pense nisso.

domingo, 29 de novembro de 2015

ESCOLHA


Quem escolhe a própria sexualidade?
Embora haja uma quantidade grande de pessoas que acreditam que o desejo sexual de alguém seja uma escolha, uma opção, eu acredito que não. Verdade é que, nunca ouvi um heterossexual dizendo: escolhi ser hétero. Por que um gay deveria?

Há quem acredite que em tempos imemoriais eu tenha feito esta escolha, consciência dela, não tenho. Embora tenha sentido seus impactos mais fortes durante aproximadamente 30 anos da minha vida. Estas mesmas pessoas acreditam que eu deva fazer outra escolha.

O dia amanheceu belo, era outono, 27 de maio de 1980, uma família cristã que já contava com duas meninas recebia naquele dia, um lindo menino de olhos verdes brilhantes. O principezinho Davi chegava para alegrar a família. Não é possível descrever a alegria que sentiram pelo seu nascimento, mas eles não sabiam que aquela criança havia sido predestinada ao sofrimento.

A medida que ia crescendo, algumas coisas foram ficando aparentes para ele. Mas para quem?

Seu desgosto com o futebol, não por falta de tentativa, mas por sua inabilidade com a bola, antes acertava a canela dos colegas. Era o ultimo a ser escolhido pelos times, isso quando não era excluído da brincadeira. Isolado, sua única opção era se unir as meninas em suas brincadeiras. Não era chegado a brincadeiras de luta, como seu irmão mais novo, não gostava de brigar na rua e geralmente voltava para casa chorando. Poucas vezes se atreveu a revidar alguma agressão. Quando chegou a fase escolar tinha problema com os meninos da turma, bom aluno e quieto, já estava acostumado à companhia das meninas e isso era motivo de chacota, menininha, marcas, CDF entre outros adjetivos. Adorava dançar e quis fazer ginástica olímpica, sabia de cor as coreografias das músicas dos grupos infantis da época e isso agravava as ofensas que recebia. Devido às várias agressões verbais que sofria, se tornou seletivo nas amizades. Com poucos amigos, se tornou mais caseiro e amantes dos estudos e livros. Na adolescência percebeu que chamava a atenção mais dos homens que das mulheres, uns para ofende-lo e outros com insinuações do tipo "é disso que ele gosta" seguido de uma balançada no "documento". Tinha medo, fugia e chorava, embora a cada dia tomasse a consciência do que poderia ser, a única coisa que o deixava com mais medo era crescer e ficar parecido com Clodovil Hernandez, Seu Peru ou a aterrorizante Vera Verão.

Aos 13 anos decidiu se batizar na igreja, a promessa cristã de "receber uma nova vida" o fez acreditar que como mágica tudo mudaria. Fiel e dedicado, se doou de coração a jejuns, orações e leituras da bíblia, em pouco tempo era bem visto por sua sabedoria e conhecimento das escrituras. O que ele não entendia é o porque as coisas não mudavam. As insinuações agora aconteciam no ônibus, metro ou mesmo no trabalho. Assédios sexuais foram poucos, porém assustadores, duas vezes no trabalho, duas vezes no metro onde inclusive chegaram a passar-lhe a mão, além de um convite para sair com um homem mais velho "porque eu sei que é disso que você gosta e ninguém precisa saber". Tudo isso intensificou a sua fé e busca de Deus, pois o Senhor. E sua juventude foi marcada pelo medo e choro, entre jejuns e orações para que Deus o livrasse de ser uma abominação e condenado ao inferno. Ele não queria ser gay e a religião era seu escudo e sua vida. Evitava sair com os amigos para entretenimentos "mundanos" e intensificou suas atividades na igreja como forma de "pagar" o amor de Deus, mas nem mesmo na igreja conseguiu se livrar dos ataques que sofria, havia desconfiança de alguns e de onde deveria receber amor incondicional e ajuda, recebeu também acoites ao ponto de ser proibido de ter amizades  com alguns sob a acusação poder pervertê-los. Neste interim, teve 3 relacionamentos com meninas que não deram certo. Se dizia apaixonado, mas eram sempre amores platônicos e impossíveis. Se tornou pastor e continuava orando, esperando o milagre de sua transformação. Em tudo isso sofria sozinho e calado.

Quem pode avaliar a tristeza, a dor, o medo e a pressão psicológica pela cobrança de si mesmo, dos outros em relação a sua sexualidade, pois "todos da sua idade já namoram e você nada", além do ataque daqueles que desconfiavam e estavam apenas aguardando a confirmação para colocar toda a sua malignidade e preconceito para fora.

Atribui-se a Sigmund Freud a frase "Como fica forte uma pessoa quando esta segura de ser amada", e o que menos se sente nesta posição é que se é amado. Sentir-se deslocado em relação a si mesmo, aos outros e ao mundo se torna natural. Estar em outra realidade e tentar sobreviver não é uma escolha mas a única opção, mas com consequências pesadas pela autoacusação de estar vivendo uma mentira.

Apaixonei a primeira vez, por um homem, a certeza de sua homossexualidade aos 28 anos, o desejo de viver e experienciar tudo o que rejeitou durante toda a vida se misturam a ansiedade e ao medo. O fortalecimento pelo fogo da paixão, a coragem, a ousadia, o reconhecimento de quem se é de verdade. A coragem para se declarar e o desespero pela primeira desilusão amorosa, motivo de depressão, de pensamentos suicidas, da perda da voz e do afastamento da igreja por não querer mais mentir dizendo "estar esperando em Deus a futura namorada". .

Estava sendo forçado a fazer um nova escolha.
Um processo de redescoberta que incluía o "sair do armário".
Mais sofrimento, mas um sofrimento libertador

Escolhi me amar como sou, me aceitei e aprendi a me  re-conhecer.
Escolhi "abandonar as roupas e usadas, que já tem a forma do nosso corpo, esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos"  (*)
Escolhi não me deixar levar por pensamentos de suicídio e nem pela depressão.
Escolhi ter segurança no que quero e em como construiria meu novo eu.
Escolhi ficar ao lado de pessoas que me admiram pelo que sou e não pelo status que podia oferecer, pois me tornei uma pessoa não grata em alguns círculos.
Escolhi não me reduzir a rótulos e opiniões de quem não sabe minha historia.
Escolhi não me intimidar com os discursos de ódio e pela falta de amor dos que se decepcionam com a verdade.
Escolhi pelo amor incondicional de Deus e pelo amor de quem me ama e respeita de verdade.
Escolhi mesmo que contra todas as circunstancias negativas (social), ser feliz.
Escolhi usar o que foi motivo de prisão para minha própria libertação:
Dançar quando tiver vontade, rir até a barriga doer, lutar pela vida e pela paz com todos.
Estudar, devorar livros, ir ao cinema, sair com os amigos ou, ficar em casa acordados até de manhã.
Escolhi não deixar a religião, ir a igreja, orar e jejuar foram resignificados, não mais por tristeza mas por alegria.
Escolhi comungar da presença de Deus que está nas pessoas comuns, não em "vacas sagradas" hipócritas e desumanas.
Escolhi me apaixonar pelo belo, pelo virtuoso e pelo bom, pelo que vale a pena.
Me sentir amado. 
Ser feliz.

Escolhi viver...mesmo que para você isso se resuma a ser gay.



(*) Texto:
Tempo de Travessia
Autor: Fernando Teixeira de Andrade


domingo, 15 de novembro de 2015

NÔMADE

Ayaan Hirsi Ali, uma mulher somali, ex- muçulmana que fugindo de um casamento arranjado por seu pai, se refugia na Europa e depois Estados Unidos, nos revela com sua historia de vida, o que uma cultura de soberania masculina, fortalecida por ritos religiosos pode fazer contra suas mulheres e contra aqueles que se poe a seus dogmas e leis.

Violência doméstica, proibição de estudar, devoção irrestrita aos homens, mutilação genital, esta é a vida de muitas meninas muçulmanas pelo mundo, de acordo com ela. Uma vida de clausura não somente do corpo que em alguns países, precisa estar completamente cobertos, da mente pois são proibidas de estudar, da individualidade pois como propriedades do pai e precisam viver para honra-lo, uma moça "violada" além de vergonha para a família, não tem valor algum no mercado de casamento, mas também na clausura de sua sexualidade, para serem privadas do prazer sexual, são mutiladas ainda meninas, seu clitóris e esmagado e os lábios vaginais costurados para que elas sintam dor. 

O clamor de Ayaan ultrapassa a reclamação de uma rebelde, fugitiva, é o clamor de uma mulher que contra a própria vida, ousou falar contra um sistema que mantém vários povos do mundo e principalmente as mulheres debaixo da pobreza extrema e de condições desumanas com base em um discurso religioso que se utiliza da cultura da violência e do medo para se manter.

Entretanto Ayaan vai além, revela a face extremista de uma religião que segundo consta é a que mais cresce no mundo, o Islamismo. Ela sem medo da pena de morte que recebeu por se dizer uma ex-muçulmana e agora uma infiel - nome dado à todos os que não professam sua fé ou que a deixam - detalha as intenções destes radicais e como estão se infiltrando na Europa e Estados Unidos para colocar em pratica seu plano diabólico de destruição de todo o Ocidente, Para ela, os radicais acreditam estar em uma guerra santa entre Alá e o Profeta e todos aqueles que a partir do Iluminismo, se desviaram da verdade, adotando a razão e a ciência como ponto de apoio para a vida e não mais a fé em Deus.

Para Ayaan, que iniciou sua jornada contra o Islã radical após os atentados terroristas de 11 de Setembro, o que fortalece o Islã  é a vida pre-moderna dos países declarados muçulmanos, pois sua cultura teocrática possibilita a manutenção do poder dos radical por meio da pobreza extrema, violência e  proibição do acesso a educação. O sistema de manipulação o que ela chama de lavagem cerebral é tão planejado que eles atribuem todas as mazelas que subjugam o povo aos "pecados do Ocidente", utilizando se do Alcorão para firmar que todos os que não vivem sob os preceitos de Alá e do Profeta devem ser exterminados. 

Longe de acreditar que todo muçulmano é radical e terrorista, ela nos alerta para o fato de que, desde cedo, todo muçulmano é doutrinado a acreditar que os infiéis devem ser exterminados, e que apenas isto basta para que eles se levantem contra os ocidentais para honrem a Alá e ao Profeta. Para ela, todos são terroristas em potencial, uma vez que já que o fazem com suas mulheres, citando várias referencias do Alcorão em que o Profeta ordena que elas sejam violentadas.

                                                                             * * *

Nesta semana em que um ataque terrorista em Paris na França matou cerca de 120 pessoas, muito do que Ayaan descreve no livro se torna real, de acordo com a mídia o Estado Islâmico se declarou culpado pelos atentados e esclareceu ser este apenas o começo da vingança de Alá contra Ocidente, e que a França e quem a segue são seu principais alvos.

Durante todas as 384 páginas ela fala muito sobre o Iluminismo, momento histórico do século 18 iniciado na França cujos pilares principais estão a defesa da educação, centralidade da ciência e da razão, a liberdade religiosa e individual e os direitos de igualdade de todos perante a lei. Para ela o Iluminismo propiciou o desenvolvimento do Ocidente e são seus pilares que vão contra os ditames do Islã e são a causa de tamanho ódio e sentimento de vingança.

                                                                            * * *

Nômade
Aayan Hisri Ali
Companhia das Letras
388 páginas

sábado, 24 de outubro de 2015

UMA VIDA OCULTA NOS LIVROS

Quem conhece a Bíblia, deve ter se dado conta que, não se pode desconsiderar a história de uma homem, é nela que Deus se faz presente comungando das alegrias, sofrimentos do dia-dia e algumas vezes, intervindo sobrenaturalmente com um fim muito especifico. O Apóstolo Paulo nos alerta na primeira carta aos Corintios ao discorrer sobre a história de Israel que "tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso" (1 Co 10:11). Porém há nestas histórias lacunas que se preenchidas, podem nos auxiliar a entender melhor comportamentos e rupturas, melhorando nossa percepção sobre esta historia. Mas alguns mistérios nunca serão revelados e depende de nós buscar esta compreensão enxergando além das palavras.

Quem pode explicar como Deus convenceu a Noé de que haveria um diluvio e que deveria construir a Arca, se nunca havia chovido? E com Abraão, que saiu de sua casa para peregrinar por anos pelo deserto com a promessa de que encontraria um lugar e que seria pai de muitos filhos? Até o dia em que Deus se apresentou por meio da sarça ardente, quais os pensamentos que subiam ao coração de Moisés sabendo-se Hebreu e que seu povo estava sendo mortalmente escravizado? Porque Maria aceitou conceber o Cristo, sabendo que estava colocando sua própria vida em risco? Será mesmo que ela aceitou de forma imediata como está escrito? E os anos de Paulo no deserto em que diz ter aprendido o evangelho e seus mistérios do próprio Cristo? 

Vejo nas entrelinhas do que Ricardo Gondim escreve, nuvens encobrindo segredos do trabalhar de Deus em sua vida, processos espirituais de quem não se acomoda com imperativos e imposições que não estão alinhados com a vida experimentada pela maioria das pessoas. Em alguns momentos ele revela estes processos mas de forma tão sucinta, que só aumentam o desejo de se sentar, parar e ouvi-lo por horas, para assim compreender melhor como foi levado a romper com muitas estruturas teológicas e dogmas e, de um conferencista famoso, se tornar um "herege" no meio cristão evangélico, e isso, sem perder a fé em Deus e a confiança em seu amor.

Desde seu livro "Pra começo de conversa" já indicado aqui, tenho as experiencias de Gondim como um exemplo claro do que aconteceu com alguns personagens bíblicos, e longe de idolatra-lo, busco me reconhecer nestes processos, lembrando-me do adolescente questionador que foi orientado pelo pastor a fazer questionamentos apenas a ele, para não causar duvidas e problemas entre os irmãos.

Nos livros que indico, Gondm escreve sobre a teologia que conduz sua jornada e como ela foi sendo moldada através de suas experiencias de vida e que construíram quem ele é e o que representa para seus apreciadores, como também, para a formatação de uma igreja que assim como ele, passa por um processo de amadurecimento para se contextualizar e ser relevante no mundo e na sociedade em que está inserida

Leia, quem sabe você se reconhece também.

Possibilidades para a Fé Cristã
Fonte Editorial
229 páginas

Pensando Fora da Caixa
Fonte Editorial
150 paginas

É proibido
Editora Mundo Cristão
129 páginas

Deus imerso no sofrimento Humano
Editora Doxa
141 páginas

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

EU, PORÉM, VOS DIGO


Vocês estão aqui para defender os indefesos,
para assegurar que os prejudicados tenham uma oportunidade de justiça.
O trabalho de vocês é proteger os fracos,
perseguir os que os exploram"
Salmo 82:3-4


Dizem que Jesus iniciou seu ministério com o Sermão do Monte, registrado no evangelho de Mateus. O texto nos diz muito sobre o caráter do ministério de Jesus e do que se espera dos homens que desejam entrar em seu Reino. Longe de uma pregação legalista, cheias de regras, Jesus desce no chão da vida e revela ao povo uma nova compreensão da espiritualidade e do Reino de Deus.

Como leigo entendo em meu espirito que, quando o apostolo João diz que "o verbo se fez carne e habitou entre nós" ele nem de longe quis afirmar que a palavra - a Bíblia - se materializou para provar sua autoridade e inerrância como acreditam alguns, mas que as atitudes, comportamentos e ações de Deus, e por isso - O verbo - estavam em Jesus, com o objetivo de revelar o coração do Pai. 

Testificando isto, o próprio Cristo afirma ao apóstolo Felipe quando este pediu para que Jesus mostrasse o Pai e ouviu "quem me vê, vê o Pai", afirmou ainda que "as palavras que dizia não eram simples palavras, mas palavras ditas por Deus e transformadas em ações divinas" e foi enfático com os escribas afirmando "Tudo o que faço foi autorizado por meu Pai, ações que falam mais alto que palavras (...) Eu e o Pai, somos um só coração e uma só mente" e por isso os religiosos da época atentaram contra sua vida, por se dizer Filho e igual ao Deus. Posso citar ainda o escritor de Hebreus que afirma "O Filho reflete perfeitamente quem Deus é e está selado com a natureza de Deus". Podemos, então, entender que tudo o que encontramos em Jesus é a realidade e expressão exata de Deus.

"Eu, porém, vos digo" é uma frase muito enfatizada por Jesus durante o Sermão do Monte, e longe de querer minimizar os escritos antigos, ele eleva termos da lei à uma profundidade maior, porém com uma simplicidade tamanha, buscando apenas a promoção da justiça, da paz e da alegria, contra o que acreditavam os sacerdotes da época que, a Lei precisava ser guardada e mantida. Com isso Jesus inicia um série de quebra de paradigmas com um único objetivo - que a conduta dos seus seguidores seja mais correta que a dos escribas, fariseus e doutores da lei - pois eles detinham o poder religioso e acreditavam possuir as chaves para o reino de Deus, entretanto Jesus afirma categoricamente que "eles impedem o povo de se chegar a Deus por meio de fardos e leis de homens que nem mesmo eles suportavam carregar".

Era o clamor dos profetas na Pessoa do Cristo: como afirma o escritor de Hebreus "passando por uma longa linha de profetas, Deus falou aos nossos antepassados séculos a fio, de diferentes maneiras. Em tempos recentes, a comunicação foi direta, por intermédio do seu Filho".

As reivindicações de Jesus em favor do pobre, da viuvá, do órfão, do oprimido, do estrangeiro/gentil e contra as riquezas, o legalismo e hipocrisia religiosa não se trata de algo novo, já estava na boca dos profetas de Israel, mas estes não deram ouvido, sendo o ponto alto dos planos de Deus, sua encarnação no Filho. 

Esvaziado de sua glória e poder, exalando apenas sua essência, ressignifica sua imagem de onipotência e soberania distante tão cultuada, mostrando quem realmente É - Deus é amor. Excluindo assim, as máscaras dos preconceitos, paradigmas, anseios, desejos e superstições de quem escreveu ou interpretou o que ouviu, distorcendo a essência de Deus para beneficio próprio.

Iluminados por isso, fica mais fácil enxergar durante toda a escritura o clamor de Deus contra o que os apóstolos vão chamar de "mundo" e "anti-cristo", um sistema de opressão cujo objetivo é roubar, matar e destruir, utilizando-se do poder, manipulando sobretudo a religião para se fazer prevalecer. Como alertou Paulo à Timóteo "sabemos, todavia que a Lei é boa, se alguém a usa da forma adequada". o que não é foi o caso de Israel e por isso Deus diz por meio de Jeremias "Eles invalidaram a minha aliança (...) a escreverei em seus corações".

Clique na foto para ampliá-la.

Que toda teologia seja feita a partir destas premissas: que Jesus é a imagem e expressão exata de Deus e toda a escritura deve ser lida e interpretada a partir dele, o alfa e o omega, o principio e o fim. Que os oprimidos sejam o seu alvo e beneficiários e toda injustiça seja condenada.

Este é o Evangelho do Reino, as boas novas para os excluídos e oprimidos, manifestado através do amor. Que possamos enxergar o mundo através destas lentes e buscar fazer dele um lugar melhor onde reine verdadeiramente o amor e a graça de Deus com justiça, paz e alegria.

Esta é minha teologia.


Referencias: 
Evangelho de Mateus, 5;20; Evangelho de João, 14:5-10; Evangelho de João, 10:25-30; Isaías 43:19; Epístola aos Hebreus 1:1 e 3; 1 Epístola de João 4:8; 1 Timóteo 1:8; Jeremias 31:32; Mateus 21:31-32.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

UMA MENTIRA GAY

É inegável os avanços que a comunidade LGBT conquistou nos últimos anos,

Atualmente cerca de 25 países já legalizaram o casamento de pessoas do mesmo sexo e em 2009 aproximadamente 14 países já autorizavam a adoção de crianças por casais homo afetivos. No Brasil já é lei desde 12 de Março de 2015 a possibilidade de utilização do nome social por transexuais, garantindo ainda, a utilização de qualquer espaço segregado por gênero, quando este estiver de acordo com a identidade de gênero de cada sujeito.

Temos visto também um movimento em filmes, novelas, anúncios publicitários, comerciais de TV  e demais mídias com ações voltadas à conscientização do respeito e aceitação da diversidade, sendo o caso mais recente o da "O Boticário". Em Março deste ano cerca de 397 empresas americanas assinaram um documento pela legalização do casamento homo afetivo em todo o território dos EUA, o que fez com que a Suprema Corte Americana sancionasse a Lei em Junho do mesmo ano. 

Toda esta luta é valida, importante e não vamos parar.

Entretanto, o que não podemos permitir é que na glamourização do movimento LGBT, fuja de nossas vistas o que é essencial e, de oprimidos nos transformemos opressores, exigindo exclusividade ao invés de igualdade de Direitos, assim como se percebe em outros grupos e dentro da própria comunidade gay.

Não podemos nos esquecer que muto além dos holofotes da mídia, das multidões nas paradas do orgulho gay, nas boates, pool parties e anúncios de TV, há um mundo real, onde gays em geral são discriminados e é neste ambiente que a vida acontece:
  • Brasil lidera o ranking mundial de assassinato de gays e transexuais, é registrada 1 morte a cada 28 horas, só em 2013 foram 312 assassinatos com requinte de crueldade.
  • Pesquisa recente mostra que 1 em cada 5 empresas não contratam homossexuais. Nas que contratam, 40% sofrem discriminação. Para transexuais a situação é ainda pior.
  • Cerca de 87% da comunidade escolar tem preconceito a homossexuais, o problema afeta profissionais do ensino e alunos.
  • Taxa de suicídio entre jovens LGBT pode ser maior que para jovens heterossexuais.
  • O número de jovens gays com o vírus HIV aumentou nos últimos anos.
Os dados citados são apenas alguns números que a glamourização LGBT tenta esconder, sem contar todas as mazelas sofridas no âmbito familiar, tais como: exclusão do convívio familiar, abuso, torturas, espancamentos, humilhações, que acarretam a fuga, suicídio, uso de drogas e prostituição.

Esta luta se compara a luta pelos direitos dos negros e das mulheres, que muitos acreditam que com a abolição da escravidão, criminalização do racismo e da violência contra a mulher (Lei Maria da Penha), tiveram fim, muito pelo contrário. Ainda hoje se vê, ouve e vivencia uma série de eventos discriminatórios em que não há nenhuma intervenção do governo para reprimi-las. Os movimentos da causa negra e da mulher estão mais ativos do que nunca, mas permanecem escondidos nas senzalas e cozinhas, longe dos holofotes da mídia.

A mentira gay que nos contam hoje é a mesma contada para outros grupos oprimidos, que uma lei aqui, um favorecimento ali, irá transformar a sociedade num campo florido, onde gozaremos de paz e alegria como em comercial de margarina.

Mas a exemplo deles, constatamos que a estrada para a aceitação e respeito é mais longa que imaginamos, não são leis ou imposições que farão com que o senso comum (estereótipos, piadas, adjetivos, expressões ofensivas, etc) sejam banidas da sociedade.

Compreenda, não sou contra as ações corretivas, porém, precisamos de ações estruturais que façam com que estas leis não sejam necessárias a médio e longo prazo. Isto é, elas não podem virar um "cala-boca" do opressor que continuará oprimindo de alguma outra maneira. Um exemplo disso é que nos deram o direito ao casamento, mas estão excluindo do plano municipal de educação a abordagem à questão de gênero, impedindo educadores de tratarem o tem em sala de aula.

Precisamos acabar com as armas do opressor, cobrando leis estruturais para uma educação inclusiva, que garanta a formação de cidadãos que embora tenham suas opiniões pessoais e religiosas contrarias, não se utilizem disso para disseminar intolerância e ódio contra a pluralidade sócio-cultural, fazendo valer as prerrogativas dos Direitos Humanos e da Constituição Federal que somos todos iguais.

O que nossos jovens precisam saber é que ser gay ou hétero nunca foi e nunca será legal, como algo divertido ou que nos faça especiais em detrimento do outro. Ser gay ou hétero é algo natural, portanto só me faz único, nem melhor e nem pior.

Utopia? Para esta geração pode ser, mas quem sabe para as próximas. Prefiro viver e lutar por uma utopia que permanecer iludido por belas mentiras. Entretanto a luta é por igualdade, justiça e equidade, quando algum lado da balança pender, é necessário rever e ajustar-se.

Voltar para o armário ou trancar alguém por lá, jamais.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

ENTREGA

Banda dos Jovens da Betesda ZL interpretam uma de minhas canções.



A minha vida entrego a Ti
Quero ser somente Teu
Eu quero me esvaziar de mim
Vem me encher Senhor
Seja abundante em mim.

Que a minha vida
Seja tua vida em mim
Que os meus caminhos
Sejam os teus

Meus pensamentos, sentimento e atitudes
Sejam tua palavra
Viva em mim.

Música e letra: David Santos
Interpretação e arranjo:  Banda JBZL
Banda: Anderson, Flavio, Ed, Marcelo, Miriam, Mariana e Melissa.

domingo, 9 de agosto de 2015

EVANGÉLICOS DEBATEM A QUESTÃO DE GÊNERO

O texto abaixo foi minha fala em vídeo gravado para o evento "Evangélicos debatem a questão de gênero no PME" que aconteceu no dia 06 de Agosto na Câmara Municipal de São Paulo (Plenário Prestes Maia) e contou com a participação dos amigos José Barbosa Junior e Patricia Crepaldi entre outros. 

Quando convidado para falar no plenário me senti um pouco desconfortável por acreditar não ter embasamento para tal e a principio neguei o convite. Entretanto, decidi gravar o vídeo por não poder me omitir em tão importante questão. Então falei do que sinto a respeito e de minhas experiencias. Sei que o que envolve esta questão vai muito mais além do que minhas palavras, poderia reescreve-lo e aumenta-lo e ainda não findaria as discussões que o envole e as implicabilidades de tal ruptura sócio-cultural, mas não podemos nos calar, algo precisa ser feito, pois o sofrimento de muitos precisa acabar.


Olá, se você é homem e está nesta platéia e de alguma forma sofreu preconceito ou foi motivo de chacota por não gostar de futebol, por ajudar sua mãe nos afazeres domésticos, se era caseiro e gostava de ler ou foi hostilizado por em algum momento usar uma roupa cor de rosa, ou se você é mulher e sofreu o mesmo por gostar de futebol, por não curtir usar vestidos ou maria-chiquinhas e se foi hostilizada por preferir brincar de pipas ou bolinhas de gude ao invés de bonecas, eu gostaria que levantasse a sua mão!! 

Embora eu não possa saber quantos vocês são, sei que há pessoas nesta condição e quero te contar um segredo: "Você é homossexual!"

Brincadeiras a parte, o estereótipo de gênero enquadra e rotula as pessoas, colocando-as em caixinhas de como devem ser e de como devem se comportar, sem levar em consideração suas aptidões, seus talentos, sua personalidade, seus gostos pessoais ou educação. E você sofreu por conta disto.

Por muito tempo a religião normatizou o que era coisa de homem e coisa de mulher, dando privilégios a uns e rebaixando, marginalizando e demonizando tudo o que era diferente. Homens gostam de azul, mulheres de rosa e todas as outras cores que vão para o inferno. 

E nesta divisão de coisas de homem e coisas de mulheres, ao homem foi dado  o direito a civilidade, a educação, ao poder politico e ao poder religioso e a mulher foram dados alguns deveres, o de ser boa dona de casa, boa mãe e boa amante. E a sociedade sofre as consequências disto até hoje.

Para ficar claro, um homem que vai para balada e pega varias mulheres é virial, é macho e garanhão e a mulher que faz o mesmo é vadia, é galinha é puta. E esta diferença de percepções sobre o mesmo assunto trata-se da questão de gênero. 

Porque ainda aceitamos que as mulheres ganhem 30% a menos que o os homens, que elas não esteja me papel de liderança e não estejam engajadas na politica? Porque homossexuais e transsexuais ainda são marginalizados e obrigados por este sistema a se prostituirem para ganhar a vida? A resposta passam pela questão de gênero pois favorece a uns e rebaixa outros. E esta desordem impregna toda a nossa sociedade.

Tratarmos deste assunto na escola e na igreja é total importância. Já está na hora da igreja quebrar os paradigmas que ela mesmo criou gerando igualdade e justiça para todos pois isto é o Reino de Deus.

Parabéns aos organizadores deste debate.
Infelizmente não pude estar ai, mas está é a minha contribuição.



DIGA SIM À VIDA

Dona de uma vida repleta de experiencias, quem já ouviu Silvia Geruza palestrando, se encanta com seu jeito simples e alegre de falar, mesmo quando fala de momentos desafiadores, complicados ou cheios de dor. E assim também é a palestra de lançamento do livro "Diga Sim à Vida" um retalho de experiencias que agora refletidas deram origem ao livro.

Tive a grata alegria de ouvi-la no lançamento realizado na Betesda Zona Leste. Ouvi-la falar e ler o livro me proporcionou duas sensações:

1ª. Quem a ouve, tem a impressão de estar com uma amiga, em casa, em uma roda de conversa num sábado à tarde, regada a vinho e alguns petiscos. O tema: a vida, sua beleza, seus problemas e como aproveitá-la. Neste momento, risos, algumas gargalhadas, comentários mais íntimos, sonhos e desejos não são proibidos. Não se expor e algumas vezes se ridicularizar está fora de cogitação, pois em roda de amigos verdadeiros vale tudo, exceto teorias e filosofias enlatadas. É a leveza de quem não sofreu e não sofre com a vida, mas soube experimentar inclusive momentos de dor ou luto, reconhecendo neles cada aprendizado. Ouvir Silvia Geruza é uma benção. 

2ª. Embora o livro possa ser classificado como auto-ajuda, sabiamente esta escrito no prefácio que o livro "não é um manual de xis passos para alcançar a felicidade" mas sim um convite para que você protagonize a sua vida dando a elas tantos sentidos você puder. Em cada pagina me sentia como que sentado em uma varanda, olhando o por do sol e sendo aconselhado por minha avó, conselhos de amor, sabedoria e cuidado, não formulas obsoletas ou utopias de gente amargurada com uma vida vazia. Sinto que tenha faltado apenas o cafuné, que minha vozinha adora fazer nos meu cabelos.

Mesmo que o livro tenha uma conotação feminina, seus conselhos são universais, conselhos experimentados no chão da vida, no dia a dia de quem é mãe, esposa, profissional, e não vive a utopia de criar passos mágicos para alcançar a felicidade. E esta é a diferença do livro, a verdade de quem fala com propriedade do que experimentou, em relação a quem fala do que outros viveram e querem fazer disso mantra em busca de sentido para a própria vida, ou melhor, fazer disto, um pote de dinheiro fácil.

Recomendo a leitura!!

Diga Sim à Vida
Silvia Geruza Rodrigues
Ed. Doxa e Fonte Editorial, 2015
88 páginas

domingo, 5 de julho de 2015

FRAGMENTOS DO CAMINHO

"Quero trazer a memória, aquilo que pode me trazer esperança" disse o profeta.

Há quem diga que a vida só faz sentido, quando estamos em momentos ruins. Nestes momentos percebemos o quanto a vida é maravilhosa e, o quanto a desperdiçamos com coisas sem sentido em detrimento de coisas que realmente nos fazem felizes.

Sentido para a vida é o que todos buscamos. Mas não há como ter sentido, sem nunca ter sentido.

É analisando o nosso passado, revivendo bons e maus momentos, experimentando de novo, sentimentos e emoções trazidos à superfície por meio de um cheiro, um sabor, um som, uma imagem, um toque, isto é, vasculhando aquilo que nossa memória sinalizou como importante, que percebemos o que para nós faz realmente sentido. E assim, podemos encontrar o sentido para a nossa existência, esperança para prosseguir e motivação para continuar o caminho.

Quem não tem memórias, não viveu.
Quem não tem saudades da infância, não brincou.
Quem não sente as ausências, nunca amou de verdade.
E porque viver dói, mas é maravilhoso, que Otacilio Pontes escreveu "Fragmentos do Caminho".

Mais que um livro de memórias, Fragmentos do Caminho é um livro que desvenda o coração de um homem que encontrou nas coisas simples da vida, um sentido para sua espiritualidade, o AMOR.

Mas quem é Otacilio Pontes?
Um pastor querido por muitos, para mim, até então desconhecido, mas que me abraçou por longos minutos, e sem dizer uma palavra, transmitiu toda força e apoio que precisava, e que não encontrei entre os meus. Um amigo que num canto, baixinho, me aconselhou e abençoou meu casamento. Otacilio para mim, é uma expressão de amor e zelo de Deus.

Mas que será Otacilio para você?
Esta pergunta só poderá ser respondida a medida que você folhear este livro.
Memórias, alegrias, saudades, dores e tristezas, seu coração está em cada frase, em cada pausa e em cada reticencia.

Não tem como em muitos capítulos, segurar o nó que se forma na garganta e as lágrimas que brotam incontroláveis nos olhos. Você se inunda das Otacilices, do que move o coração dele, e quando percebe, entre pausas e reticencias está revivendo suas próprias memórias, alegrias e tristezas. 

E, assim, conhecendo a alma do Otacilio, você possa se conhecer um pouco mais, e de fragmento em fragmento, vai criando um novo, vivo e mais belo caminho.


Fragmentos do Caminho 
Por uma espiritualidade viva, porque viver dói, mas é maravilhoso!
Autor: Otacilio Pontes


Recomendo a leitura.

domingo, 28 de junho de 2015

HÉTERO DISCRETO



Há alguns dias venho ouvindo de amigos, demostrando seu carinho e preocupação, que eu deveria parar de publicar aqui e nas outras redes sociais que faço parte, coisas sobre a luta dos LGBTs por seus direitos civis, contra o preconceito, etc. Alguns chegam a dizer: "seja um gay discreto, é mais bonito" ou ainda "você não precisa disso, é inteligente", etc.

Embora entenda a sincera preocupação, e a bondade na intenção, ela é impura e o que não se percebe é o preconceito por trás da afirmação da existência de um gay discreto. Não tenho parâmetros para saber o que é ser um gay discreto. A gente é o que é, não tem como esconder.

Então eu pergunto: O que seria um hétero discreto? 

Seria um hétero discreto alguém que não demostra sua afetividade em publico, não anda de mãos dadas ou abraçado na rua, não dá selinhos ou beijos desentope pia no transporte coletivo, restaurante, parque ou qualquer outro local? Seria aquele que não coloca fotos abraçado ou beijando seu companheiro (a) nas redes sociais? 

Seria um hétero discreto um homem que não coça o saco, arrota, peida ou fala palavrão, coisas estas bem tipicas do sexo masculino e aclamada pelos machistas de plantão - acho que este tópico não, porque se não faz isso é gay. Não é mesmo? - Seria o homem que não olha para a bunda de outra mulher mesmo na presença da sua? 

Seria um hétero discreto uma mulher que seja menos vaidosa, que não pinta as unhas, usa batom, arruma o cabelo - acho que não, estas são aquelas irmãs de igrejas ultra-conservadoras - Ou seria a que não usa seu olhar, o jogar de cabelos, o cruzar das pernas, o sorriso, seu cheiro e sua sensualidade para seduzir? 

Por favor, seja hétero, mas não de pinta!
Percebe, como seria castrador uma campanha para que os héteros fossem discretos em sua sexualidade. E porque não O é quando se trata de gays?

Acredito que existam héteros (discretos) que em publico rejeitam qualquer demostração de sua afetividade, são cuidadosos na presença de idosos e crianças, não postam fotos semi nus, aos beijos ou em posturas sensuais. Assim como há gays que o fazem, e estou nesta lista (me neguei a dar o beijo na cerimonia do meu casamento). Mas estas pessoas são assim por essência, e não tentam impor essa condição aos outros.

Toda essa situação me faz recordar de quando no processo interno para "sair do armário" eu dizia que não levantaria a bandeira do arco-iris, que não diria ser gay, e porque mudei, por empatia e compaixão, pois não não há como não se compadecer de milhares de pessoas que sofrem, são humilhadas, violentadas psicologicamente, agredidas fisicamente e quando não, mortas, pelo fato de serem o que são. Sejam discretos ou não, a questão e´ser gay.

Se defender uma causa, é falta de discrição, me desculpem amigos, continuarei sendo INDISCRETO.
Serei ainda um manifestante das redes-sociais, mas já estou em busca de uma organização que comungue dos mesmos ideias que eu, para então ir para as ruas e quem sabe os palanques.

Como disse o Zagalo: "Vocês vão ter que me engolir" ou excluir.  

sábado, 27 de junho de 2015

IGREJA CRISTÃ FUNDAMENTALISTA DO MUNDO

Bom dia, amados gays, lésbicas, bis, trans.
Aqui quem fala é a igreja cristã fundamentalista do mundo. Escrevo para dizer que amo vocês.

Se eu não acolho vocês em minhas fileiras, é porque eu posso sim aceitar a usura, a mentira, o calote, a fofoca, a vaidade, o abuso de pobres, mulheres, crianças, posso até passar um paninho para limpar a imagem de um marido que espancou a esposa (é claro que ela deve ter dado motivo), mas aceitar que você ame uma pessoa que tenha o mesmo aparelho genital que você já seria vandalismo. Vocês me entendem, né? É por amor.

Quando fecho os olhos para os espancamentos que vocês sofrem nas ruas, é porque acho que no fundo vocês precisam passar por isso para aprenderem a lição. Quando eu ajudo a bater, a reprimir, entendam, é porque eu sei o que é melhor para vocês.

Quando eu digo aos seus pais que não podem aceita-los, e realmente compreendo quando seus pais expulsam vocês de casa, entendam, meus amados, é porque vocês precisam tomar umas surras da vida para se endireitarem.

Minhas portas estão abertas para vocês. Ou melhor, não exatamente para vocês, mas para as pessoas que vocês se tornarão quando largarem esse vida de pipiu com pipiu, perereca com perereca. Eu amo vocês, Por isso eu preciso que vocês entendam, por A mais B, que Jesus é legal e tal, mas só a lei salva.

Esqueçam, por favor, aquela conversa de que as prostitutas precederão os fariseus no reino dos céus. Não se iludam. Jesus é legal e tal, mas não posso deixar que ele leve vocês para o céu. E, como sou eu que decido e dou a sentença (que graça divina que nada) vocês vão para o inferno. Mas nunca se esqueçam de que eu os amo, tá?

Um beijo e um xingo, com muito amor e fogo eterno.

Eu,
(Igreja cristã fundamentalista do mundo)

Texto de Ana Cris Gontijo.
Publicado com autorização.    

terça-feira, 9 de junho de 2015

CRUZ

Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste? 

Deus não estava lá.

Deus destruía muros. 
Muros da religião, muros da lei, muros da letra. 
Muros de um povo separado. 
Do povo escolhidos, dos eleitos, dos ungidos. 
Muros dos sacerdotes, proprietários de deus.
Muros de um poder diabólico.
Muros da santidade fingida, da opressão, da separação e do medo.
Muros que geram ódio, dor e solidão.

Pai, perdoa-os, não sabem o que fazem.

Todos estavam lá.

Povos, tribos, línguas e nações. 
Ricos e pobres, plebeus e nobres. 
Quem o desamparou, quem o negou e aquele que o traiu. 
Estavam quem o queria matar. 
O que consentiu por omissão, e aquele que lavou as mãos. 
Os que gritaram; crucifica. e até o soldado que o furou.

Gente do passado e do futuro.
Mortos e os que viriam nascer. 
Aqueles que o iriam amar e aqueles que dele nunca iriam escutar. 
Estava o fundamentalista e o homofóbico.
O religioso e o ateu.
Estavam ali, você e eu.

Estávamos na dor.
Nos cravos, na coroa, no corte em sua lado.
Estávamos em cada gota de sangue derramado. 

Está consumado.

Ele estava na cruz.

E nós estávamos nele.
Estávamos em seu amor.
Elo de perfeição.
Completamente perdoados.
Sem distinção.


quarta-feira, 3 de junho de 2015

CARTA AOS MEUS PAIS(TORES)

Oro para que não vociferem em seus púlpitos que homossexuais são abomináveis a Deus, pode haver uma criança ouvindo e esta criança pode ainda não saber o que é homossexual, muito menos abominável, mas já pode se sentir estranha em relação ao sentimentos que guarda por alguém do mesmo sexo.


Sendo inevitável  pregações contra os homossexuais, oro para que vocês incluam em seu discurso com toda a sinceridade e verdade, que Cristo também morreu por nós, que também nos ama, e que Sua graça não é merecida por ninguém e mesmo assim, alcança a todos.

Tomem cuidado ao abordar o tema, vocês podem estar sendo usados não como instrumento de cura, mas como instrumento de tortura e violência psicológica à tantos adolescentes e jovens que vão às igrejas em busca de amor e aceitação, mas encontram ódio e rejeição. 

Prestem atenção quando oferecerem cura, eu orei e jejuei dos 13 aos 28 anos, foram 15 anos buscando libertação e vocês são testemunhas disso. Por não alcançá-la e por se sentirem culpados de não conseguir mudar sua orientação sexual, muitos gays pensam em suicídio e muitos outros dão fim a própria vida.

Precaução ao aconselharem os pais que suspeitam dos seus filhos, eles nada fizeram de errado para ter um filho gay. Incitem o amor, o cuidado, a aproximação e não a rejeição. Muitos gays caem no caminho da prostituição por terem sido colocados para fora de casa.

Não permitam que seus membros isolem um gay, a igreja deve ser um lugar de acolhimento e de afetos. Jesus disse: ninguém que vem a mim lançarei fora. a ninguém Ele desprezou, do leproso ao ladrão, a todos recebeu em seu Reino.

Campanhas de jejum, orações no monte e desafios, nada disso tem maior poder que o amor. Então prestem bem atenção no que orientam àqueles que os procurarem pedindo ajuda. Amem em primeiro lugar. Vocês podem matar espiritualmente uma pessoa, que após ter feito de tudo, não viu de Deus a resposta que esperava, fazendo-a assim perder a fé que a pode salvar.

Não queiram fazer o papel de deuses e tentar modificar a pessoa, não ensinem o jovem a falar grosso, a coçar o saco, a deixar de desmunhecar ou a menina a se maquiar, a usar saias, soltar o cabelo ou ser mais feminina. Há coisas que são da essência, é o que a pessoa é, e não determinam a homossexualidade. Tentar mudar o jeito da pessoa com forma de transforma-la é violência psicológica e tormento, é lançar a pessoa em vida, num inferno.  

Não demonizem a pessoa, proibindo de subir ao altar, impedindo-a de atuar na igreja e de abençoar a comunidade com seus dons e talentos. Lembre-se que os dons e a vocação são irrevogáveis e dados por Deus como presente a todos os homens para beneficio do corpo de Cristo e que o verdadeiro templo somos nós e não a construção do homem,

Não condenem como se mudar fosse fácil como trocar de roupa,, não é fácil conviver com a culpa de ser e existir, com os olhares atravessados e de condenação, com o assédio sexual de conhecidos e parentes que só querem confirmar suas suspeitas e aproveitar para cometerem abusos por meio de ameaças de contar para todos.

Não orientem que gays façam sexo heterossexual com a desculpa de que estão confusos e que precisam experimentar para tirar a dúvida.

E por fim, não lancem ninguém no inferno, primeiro porque esta autoridade Deus não te deu. E depois, você pode matar espiritualmente alguém que tem todas as chances de ser salva, mesmo que não seja a sua idealização de salvação. Ela pode ser salva de viver atormentada ao aceitar o amor de Deus e aceitar-se como é.

Certas coisas precisam ser ditas, mesmo que doendo. Estas fazem parte da minha experiencia como cristão e gay e são rememoradas aqui, para que muitos não sofram com elas como eu sofri. Foi isto que vi, ouvi e experimentei. O que sou hoje é fruto destas experiencias.

Eu resisti, mas muitos desistem e ficam pelo caminho, vivos ou mortos, com o consentimento, o amém e, em alguns casos, com os aplausos da congregação.

Pense nisso!


sábado, 16 de maio de 2015

FAMÍLIA: ONDE O FRACO TEM VEZ

"Ele ainda falava a multidão, quando sua mãe e seus irmãos apareceram. Eles estavam do lado de fora, tentando mandar-lhe um recado. Foi quando alguém informou: 'sua mãe e seus irmãos estão aqui. Querem falar com o senhor'. Jesus não deu uma resposta direta, mas perguntou: Quem vocês acham que são minha mãe e meus irmãos?. Ele, então, apontou para seus discípulos. Olhem bem. Estes são minha mãe e meus irmãos. Mais vale a obediência que os laços de sangue. Quem faz a vontade de meu pai celestial é meu irmão, irmã e mãe" - Mateus 12.

Desde que o mundo é mundo, nunca houve uma família tradicional digna de porta retratos ou comercial de margarina como vociferam seus defensores. Basta algumas folhadas na Bíblia, de onde tiram esta ideia, para perceber que ela não se fundamenta e nem se sustenta. A maior parte das historias e tragédias na Bíblia acontecem no âmbito familiar: assassinatos, incestos, traições, maldições, mentiras, invejas, etc. Enredos dignos de novela das 21h. 

Parece que os tais defensores tentam minimizar e esconder, mas, fato é, que o próprio Deus, para a encarnação do seu Filho, escolheu uma situação nada tradicional - uma moça com data de casamento marcada, ainda virgem, para de forma misteriosa aparece gravida. Um noivo supostamente traído, com seu orgulho e masculinidade feridos. Junte a tudo isso, uma sociedade que não perdoava tais atitudes: apedrejamento até a morte era a sentença para gravidas não casadas para o adultério ou para mulheres que na consumação do casamento, não tinham o lençol sujo com o sangue, prova de sua virgindade. A família de Jesus não tinha nada de convencional, já nasceu fadada a ser mau vista e mau falada pela vizinhança.

Na referencia que abre esta reflexão, Jesus não tem a intenção de desmerecer a família, mas como sempre, tentando elevar o tom da conversa,, diz abertamente que a obediência a Deus deve ser superior aos laços de sangue. 

Quem mais, além de nossos familiares possuem o poder irrestrito de nos irritar? 
Filhos desobedientes, pais omissos ou protetores demais, irmãos que são opostos e só faltam se matar, maridos que deixam a toalha molhada em cima da cama ou não levantam a tampa do vaso sanitário, esposas que não permitem o jogo de futebol nem as quartas e muito menos aos sábados. 

Dizemos: "É sangue do meu sangue e me faz isto?"
Poderíamos enumerar aqui uma centena de situações que nos fazem desejar estar bem longe dos nossos familiares, de pedir divórcio e cortar os laços  
É na família que os laços de sangue perdem o valor, tanto para o mau, quanto para o bem.

É no ambiente familiar que aprendemos a maior lição do evangelho: a Graça.
Neste ambiente emaranhado por amor e ódio que o fraco tem vez. 

É nela que manifestamos amor por quem muitas vezes não merece. 
Na família que as maiores lições do evangelho se tornam reais.
Por sua manutenção e pelo amor que temos uns pelos outros [e que é inexplicável] aprendemos a não levar em conta a multidão de pecados, perdoamos e somos perdoados, dividimos o pão, sofremos a perda, damos a outra face e a vida continua. A magoa, o rancor, a dor, podem permanecer por longos anos ou quem dirá por toda uma vida, mas, cedo ou tarde, o amor vence, mesmo que no ultimo suspiro ou já no cemitério.

O que infelizmente os cristãos deixaram de perceber é que quando Jesus ou qualquer outro profeta ou apóstolo fala de obediência a Deus, antes de mais nada, está está falando de amor, o maior de todos os mandamentos, o amor que é o vinculo da perfeição, o amor dom que é maior que as profecias, as línguas, a ciência e que será o único a permanecer. O amor, que é a essência de Deus.

Buscar o Reino de Deus e sua justiça, longe da assiduidade aos cultos, orar sem cessar e jejuar quarenta dias, é, antes de tudo, praticar atos de amor, contrariando a justiça deste mundo. E, em nenhum lugar isto acontece, melhor do que dentro da família.

Que possamos aprender isto, e assim como as várias famílias bíblicas acolher as fraquezas em amor, não despedindo ou deserdando os nossos - de sangue ou não - em favor de uma utopia anti-bíblica de família ou igreja perfeitas. É na busca de uma santidade fingida e de uma perfeição desumana, encontradas fora do amor que as maiores atrocidades acontecem, e elas só satisfazem o ego dos homens. 

Que o fraco encontre na sua família, não a justiça humana baseada no olho por olho e dente por dente, mas a justiça de Deus em Cristo, que morreu para perdoar todos os pecados. N'Ele somos justificados.

Que nossa satisfação esteja em obedecer como Maria e José, que não se preocuparam com a própria reputação ou com os riscos que podiam sofrer e, contra o que diziam as leis, os mandamentos, os estatutos e códigos sociais da época, resolveram amar e formar uma família na fraqueza para que a graça de Deus se manifestasse a todas as famílias da terra.

Pense nisto ou melhor, aja assim!

terça-feira, 28 de abril de 2015

VOTOS

"Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio." 
William Shakespeare | Como Gostais - Ato V cena II - Rosalind  (1599 - 1600)

Após pouco mais de um mês do meu casamento, com as emoções no lugar e os pensamentos em ordem, fica mais claro escrever. Dias antes do casamento, ansioso e angustiado, precisava escrever os votos e as palavras não fluíam. 

Queria escrever sobre o porque me casaria com o Wagner, quais as qualidades que ele possui que me atraíram a ele e não conseguia. Foram dias complicados que me fizeram colocar em dúvida meus sentimentos e os motivos de tão definitivo passo. Se há algo desumano, é não reconhecer os valores do outro. Então decidi olhar tudo o que já havia escrito sobre nós, foi quando me deparei com a seguinte texto:

"É um amor tão tranquilo que às vezes penso que não é. Mas é só ficar perto de você, que a dúvida passa. Nossos encontros são poesias que ninguém lê. Não necessitamos palavras, todo meu corpo fala quando te vê. E nos meus olhos pode ler aquilo que em voz alta não consigo dizer.
Então me conquiste até eu não ter mais forças e desista de resistir. E com um grito coloque pra fora o meu coração ainda pulsando, e dizendo baixinho o que você precisa ouvir. E que só consigo dizer sem palavras, olhado pra você." - Sem Palavras - David Santos - 30/10/2011.

Quando nos apaixonamos, é como comprar uma caixa fechada e que só pode ser aberta quando chegarmos em casa, não havendo possibilidade de devolução ou troca. O que isso significa? Que precisamos amar o conjunto - a caixa e seu conteúdo - não apenas o que está por fora, não apenas o "corpo que o sexo deseja"... parafraseando o Pequeno Príncipe "o essencial é invisível aos olhos, pois só se vê bem com o coração". Temos que amar além do que os nossos olhos podem ver, e isso inclui amar a alma, os sonhos, anseios, medos e tudo o mais que a vida nos fizer experimentar, Se a vida é uma caixinha de surpresas, o amor é o embrulho e suas fitas.

Insisti mais um pouco tentando encontrar as tais qualidades, e somente na madrugada que antecedia o casamento, quando não consegui ter um sono profundo, acordei com milhões de pensamentos e um deles me dizia: "o dia em que você precisar justificar com as qualidades de alguém o porque o ama, o amor acabou". 

É tão fácil amar o igual, o legal, o bonito, o que nos agrada, mas amor mesmo, é aquele que resiste, ao tempo e se fortalece à medida em que você reconhece o outro como único, como humano, com suas qualidades e defeitos. É amar por  completo. Como com pais, irmãos, avós e tios, simplesmente amamos, não sabemos quando começou é nem os motivos, amamos e amamos por completo. 

Os votos foram terminados, um copilado de tudo o que já havia escrito antes, um memorial para que eu soubesse o que me levou ao altar e que não foram apenas as qualidades dele, mas a história que estamos construindo juntos.

Que o felizes para sempre passe devagar e que cada novo dia seja um novo memorial da aliança que firmamos.