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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

PL 122 E O PROCESSO DE INFANTILIZAÇÃO DO HUMANO

Gostaria de ter uma audiência com a bancada evangélica e com os lideres LGBTs. Começaria dizendo que não preciso de uma lei para que as pessoas deixem de falar mau de mim. Se não falarem da minha intimidade, uma vez que, se intrometer em quem deita na minha cama, que está dentro da minha casa, é no mínimo invasão de intimidade e privacidade, encontrarão, logo, outros motivos. Quer saber: sou magro de dar dó, tenho orelhas grandes, etc. Falar do outro é tão humano, que não consigo imaginar uma lei destas. Preciso de uma lei que me defenda de políticos corruptos e religiosos aproveitadores, isso sim, seria algo útil à sociedade.
 
Bullying, na minha opinião, nada mais é que um "mimimi" criado pela sociedade chata e mimada americana. Quando na escola sofria com apelidos, caso chegasse em casa chorando, ai de mim, pior que sofrer com apelidos, era apanhar da cinta do meu pai. Pergunte isso a pessoas com 30 ou mais idade e terá respostas bem parecidas. Não morri, não matei, mas aprendi a me defender. Infelizmente, sei que não é assim com todas as pessoas, porém precisamos amadurecer, e para isso, todas as experiências boas ou ruins fazem parte. Psicologia clássica, você paga absurdos em terapia, o psicólogo te ouve e aponta na sua cara todos os teus defeitos e te dá alta, você fica satisfeito, teve "autoconhecimento", cresce, amadurece. É a vida, ou você muda, ou se aceita e segue em frente! Criar uma redoma ao redor de nós, não nos ajudará. Criem leis que incentivem a formação de professores, criança preconceituosa é desinformação, professor preconceituoso é inadmissível. Incluam acompanhamento psicológico e de assistência social, para que a escola, além de informar, ajude na formação do individuo, capacitando-o a lidar com as diferenças de maneira natural.
 
O que precisa ficar claro é que sou o David, não sou gay, não sou bichinha, mulherzinha, boiola, maricas, bambi ou qualquer outro adjetivo. Quando me conheço, não sofro com apelidos depreciativos, não falam de mim, não me definem. Meus amigos sabem disso, e convivemos muito bem com as brincadeiras e piadas pesadas sobre o assunto. Não os imagino podando a zoação com são paulinos por medo de me ofenderem ou pelo risco de serem presos. Racismo é crime há mais tempo e nunca vi alguém preso por chamar de negrinho, negão, marrom-bombom; geralmente há processo para indenização financeira. É isso que vocês querem criar mais uma maquina de ganhar dinheiro? Pergunte a um negro se, se incomoda com os apelidos, creio eu que não, o que incomoda de fato, é o desrespeito, a violência e a falta de iguais oportunidades.

Mensuraram o impacto disto nas famílias? Já ouvi criança em fase escolar dizendo que "se apaganhar dos pais, chamará a policia", reflexo da lei das palmadas. Há famílias que aceitam a homossexualidade, outras levam seus filhos para terapias de reversão, outras os expulsam de casa e outras guardam silencio. O que é mais fácil então,  processar os pais, ou promover meios de conciliação?
 
Importante é informar-lhes que as eleições populares, colocam no poder representantes do povo, para o povo, e não representantes de Deus. Quando o justo governa o povo se alegra, não é isso que afirmam as escrituras? O que vemos atualmente são pessoas que acreditam terem sido levantadas para fazer o juízo de Deus contra os que não professam a mesma fé, ou estão propondo projetos que tendem a beneficiar apenas uma parcela da sociedade. Não sabem o que é politica! Governem para todo o povo, ou se levantem a bancada dos negros, dos indígenas, das religiões afro. Que cada um defenda o seu, porque é cada um por si e Deus apenas para os evangélicos.
 
Impor qualquer doutrina, ensino, regra, costume religioso a pessoas que não possuem a mesma fé, é retrocedermos à Inquisição, e sabemos que o resultado disto não é bom. Voltem os olhos para o passado e permita-lhe que os ensine. O Brasil é um pais laico e todos devem ter seus direitos de cidadão respeitados. Cumpram os princípios fundamentais da Constituição, artigo 3 - "promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, cor, idade, e quaisquer outra forma de discriminação.
 
O que vocês tanto temem?
Que gays que frequentam as igrejas e se ocultam, se assuma e queiram casar-se?
Não temam, se eles estão na igreja e não se manifestaram, não será por causa de alguma lei que o farão. O que querem é servir a Deus e por isso se ocultam, medo da exclusão da comunidade e da presença de Deus.
Qual o receio?
A proibição de pregarem em praça publica?
Entendo que este tipo de cerimônia deva ser exclusivamente de cunho evangelístico. Culto de doutrina se faz no tempo, para membros da comunidade. Preguem na praça as boas novas, a misericórdia e o amor, não o fogo da condenação. A maioria da população já vive um inferno, não tendo o mínimo para a sobrevivência, excluídos da sociedade, sem acesso a saúde, educação, saneamento-básico. Pra que acender ainda mais a chama da dor?
 
Não duvido que haja pessoas mal intencionadas, que entrarão na igreja e esperarão em silencio dias e dias, até ouvirem algo que não concordam, para então processar o tal pastor. Porém creio eu, e creio que vocês sentem que seja uma bem aventurança o sofrer perseguições e injustiças por amor ao Cristo. Evidente que esta pessoa esta possuída por um mal desejo e cremos que Cristo advoga nossa causa e nos fará a justiça, porém, se não o fizer, combata o bom combate, sofra a injustiça, como Cristo padeceu pela igreja. No mais, não queiram fazer o trabalho de Deus.

Há ambos, não infantilizem as pessoas, não manipulem, não usem como massa de manobra politica ou por quaisquer interesse. Dê o conhecimento e permitam que julguem por si só. Tenho minhas convicções e experiências de vida, está é a minha verdade, podem concordar com ela ou não. Mas foi o que me trouxe até aqui, sendo cristão e homossexual, sem sofrer excessivamente ou causar dano a ninguém.
 
Há quem sofra, há quem mate, há quem morra, há quem chore, mas também há os que sorriem e são o que são sem peso. Impossível aqui levantar todas as variáveis, por isso, deixem que cada um decida por si, permitam que cresçam, responsáveis por seu atos.
 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O POEMA DO SEMELHANTE - Elisa Lucinda

O Deus da parecença que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza em sentimento
que nos pluraliza, que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu destino aos meus versos,

Foi Ele quem arrancou deles a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de individuo ainda maior, embora mais justa.

Me assusta e acalma ser portadora de várias almas
de um só som comum eco, ser reverberante
espelho, semelhante, ser a boca
ser a dona da palavra sem dono de tanto dono que tem.

Esse Deus sabe que alguém é apenas o singular da palavra multidão
É mundão, todo mundo beija, todo mundo almeja, todo mundo deseja, todo mundo chora
alguns por dentro, alguns por fora, alguém sempre chega, alguém sempre demora.

O Deus que cuida do não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa de similitude
bateu-me no peito do meu amigo

encostou-me a ele em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura, a solidão do medo, a solidão da usura
a solidão da coragem, a solidão da bobagem, a solidão da virtude
a solidão da viagem, a solidão do erro, a solidão do sexo
a solidão do zelo, a solidão do nexo.

O Deus soprador de carmas deu de eu ser parecida
Aparecida, santa, puta, criança
deu de me fazer diferente
pra que eu provasse da alegria de ser igual a toda gente

Esse Deus deu coletivo ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.

Não fosse a inteligência da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança.