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sábado, 24 de outubro de 2015

UMA VIDA OCULTA NOS LIVROS

Quem conhece a Bíblia, deve ter se dado conta que, não se pode desconsiderar a história de uma homem, é nela que Deus se faz presente comungando das alegrias, sofrimentos do dia-dia e algumas vezes, intervindo sobrenaturalmente com um fim muito especifico. O Apóstolo Paulo nos alerta na primeira carta aos Corintios ao discorrer sobre a história de Israel que "tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso" (1 Co 10:11). Porém há nestas histórias lacunas que se preenchidas, podem nos auxiliar a entender melhor comportamentos e rupturas, melhorando nossa percepção sobre esta historia. Mas alguns mistérios nunca serão revelados e depende de nós buscar esta compreensão enxergando além das palavras.

Quem pode explicar como Deus convenceu a Noé de que haveria um diluvio e que deveria construir a Arca, se nunca havia chovido? E com Abraão, que saiu de sua casa para peregrinar por anos pelo deserto com a promessa de que encontraria um lugar e que seria pai de muitos filhos? Até o dia em que Deus se apresentou por meio da sarça ardente, quais os pensamentos que subiam ao coração de Moisés sabendo-se Hebreu e que seu povo estava sendo mortalmente escravizado? Porque Maria aceitou conceber o Cristo, sabendo que estava colocando sua própria vida em risco? Será mesmo que ela aceitou de forma imediata como está escrito? E os anos de Paulo no deserto em que diz ter aprendido o evangelho e seus mistérios do próprio Cristo? 

Vejo nas entrelinhas do que Ricardo Gondim escreve, nuvens encobrindo segredos do trabalhar de Deus em sua vida, processos espirituais de quem não se acomoda com imperativos e imposições que não estão alinhados com a vida experimentada pela maioria das pessoas. Em alguns momentos ele revela estes processos mas de forma tão sucinta, que só aumentam o desejo de se sentar, parar e ouvi-lo por horas, para assim compreender melhor como foi levado a romper com muitas estruturas teológicas e dogmas e, de um conferencista famoso, se tornar um "herege" no meio cristão evangélico, e isso, sem perder a fé em Deus e a confiança em seu amor.

Desde seu livro "Pra começo de conversa" já indicado aqui, tenho as experiencias de Gondim como um exemplo claro do que aconteceu com alguns personagens bíblicos, e longe de idolatra-lo, busco me reconhecer nestes processos, lembrando-me do adolescente questionador que foi orientado pelo pastor a fazer questionamentos apenas a ele, para não causar duvidas e problemas entre os irmãos.

Nos livros que indico, Gondm escreve sobre a teologia que conduz sua jornada e como ela foi sendo moldada através de suas experiencias de vida e que construíram quem ele é e o que representa para seus apreciadores, como também, para a formatação de uma igreja que assim como ele, passa por um processo de amadurecimento para se contextualizar e ser relevante no mundo e na sociedade em que está inserida

Leia, quem sabe você se reconhece também.

Possibilidades para a Fé Cristã
Fonte Editorial
229 páginas

Pensando Fora da Caixa
Fonte Editorial
150 paginas

É proibido
Editora Mundo Cristão
129 páginas

Deus imerso no sofrimento Humano
Editora Doxa
141 páginas

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

EU, PORÉM, VOS DIGO


Vocês estão aqui para defender os indefesos,
para assegurar que os prejudicados tenham uma oportunidade de justiça.
O trabalho de vocês é proteger os fracos,
perseguir os que os exploram"
Salmo 82:3-4


Dizem que Jesus iniciou seu ministério com o Sermão do Monte, registrado no evangelho de Mateus. O texto nos diz muito sobre o caráter do ministério de Jesus e do que se espera dos homens que desejam entrar em seu Reino. Longe de uma pregação legalista, cheias de regras, Jesus desce no chão da vida e revela ao povo uma nova compreensão da espiritualidade e do Reino de Deus.

Como leigo entendo em meu espirito que, quando o apostolo João diz que "o verbo se fez carne e habitou entre nós" ele nem de longe quis afirmar que a palavra - a Bíblia - se materializou para provar sua autoridade e inerrância como acreditam alguns, mas que as atitudes, comportamentos e ações de Deus, e por isso - O verbo - estavam em Jesus, com o objetivo de revelar o coração do Pai. 

Testificando isto, o próprio Cristo afirma ao apóstolo Felipe quando este pediu para que Jesus mostrasse o Pai e ouviu "quem me vê, vê o Pai", afirmou ainda que "as palavras que dizia não eram simples palavras, mas palavras ditas por Deus e transformadas em ações divinas" e foi enfático com os escribas afirmando "Tudo o que faço foi autorizado por meu Pai, ações que falam mais alto que palavras (...) Eu e o Pai, somos um só coração e uma só mente" e por isso os religiosos da época atentaram contra sua vida, por se dizer Filho e igual ao Deus. Posso citar ainda o escritor de Hebreus que afirma "O Filho reflete perfeitamente quem Deus é e está selado com a natureza de Deus". Podemos, então, entender que tudo o que encontramos em Jesus é a realidade e expressão exata de Deus.

"Eu, porém, vos digo" é uma frase muito enfatizada por Jesus durante o Sermão do Monte, e longe de querer minimizar os escritos antigos, ele eleva termos da lei à uma profundidade maior, porém com uma simplicidade tamanha, buscando apenas a promoção da justiça, da paz e da alegria, contra o que acreditavam os sacerdotes da época que, a Lei precisava ser guardada e mantida. Com isso Jesus inicia um série de quebra de paradigmas com um único objetivo - que a conduta dos seus seguidores seja mais correta que a dos escribas, fariseus e doutores da lei - pois eles detinham o poder religioso e acreditavam possuir as chaves para o reino de Deus, entretanto Jesus afirma categoricamente que "eles impedem o povo de se chegar a Deus por meio de fardos e leis de homens que nem mesmo eles suportavam carregar".

Era o clamor dos profetas na Pessoa do Cristo: como afirma o escritor de Hebreus "passando por uma longa linha de profetas, Deus falou aos nossos antepassados séculos a fio, de diferentes maneiras. Em tempos recentes, a comunicação foi direta, por intermédio do seu Filho".

As reivindicações de Jesus em favor do pobre, da viuvá, do órfão, do oprimido, do estrangeiro/gentil e contra as riquezas, o legalismo e hipocrisia religiosa não se trata de algo novo, já estava na boca dos profetas de Israel, mas estes não deram ouvido, sendo o ponto alto dos planos de Deus, sua encarnação no Filho. 

Esvaziado de sua glória e poder, exalando apenas sua essência, ressignifica sua imagem de onipotência e soberania distante tão cultuada, mostrando quem realmente É - Deus é amor. Excluindo assim, as máscaras dos preconceitos, paradigmas, anseios, desejos e superstições de quem escreveu ou interpretou o que ouviu, distorcendo a essência de Deus para beneficio próprio.

Iluminados por isso, fica mais fácil enxergar durante toda a escritura o clamor de Deus contra o que os apóstolos vão chamar de "mundo" e "anti-cristo", um sistema de opressão cujo objetivo é roubar, matar e destruir, utilizando-se do poder, manipulando sobretudo a religião para se fazer prevalecer. Como alertou Paulo à Timóteo "sabemos, todavia que a Lei é boa, se alguém a usa da forma adequada". o que não é foi o caso de Israel e por isso Deus diz por meio de Jeremias "Eles invalidaram a minha aliança (...) a escreverei em seus corações".

Clique na foto para ampliá-la.

Que toda teologia seja feita a partir destas premissas: que Jesus é a imagem e expressão exata de Deus e toda a escritura deve ser lida e interpretada a partir dele, o alfa e o omega, o principio e o fim. Que os oprimidos sejam o seu alvo e beneficiários e toda injustiça seja condenada.

Este é o Evangelho do Reino, as boas novas para os excluídos e oprimidos, manifestado através do amor. Que possamos enxergar o mundo através destas lentes e buscar fazer dele um lugar melhor onde reine verdadeiramente o amor e a graça de Deus com justiça, paz e alegria.

Esta é minha teologia.


Referencias: 
Evangelho de Mateus, 5;20; Evangelho de João, 14:5-10; Evangelho de João, 10:25-30; Isaías 43:19; Epístola aos Hebreus 1:1 e 3; 1 Epístola de João 4:8; 1 Timóteo 1:8; Jeremias 31:32; Mateus 21:31-32.