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domingo, 30 de março de 2014

PARADIGMAS, PRECONCEITOS E NOVOS CÉUS

O preconceito é a atitude discriminatória, baseada em juízo preconcebido de algo ou alguém que fere diretamente um modelo estabelecido de mundo ideal e que outrora possa ter sido a solução para dada situação ou momento, mas que perdeu a relação com realidade. Logo o preconceito está diretamente ligado a paradigmas e à manutenção do status quo.  Sendo assim, o preconceito nada mais é que a exteriorização violenta e amedrontada da nossa aversão a mudanças.
 
Há uma historia bíblica que exemplifica bem a relação preconceito versus paradigma:
Samuel o profeta, foi designado por Deus para ungir um Rei para Israel, enviado a casa de Jessé, fez passar diante de si todos os filhos deste: Eram homens fortes, bonitos, inteligentes, capazes de conduzir o povo diante das guerras intermináveis com os cananeus; Aos olhos de todos, reis em potencial. Por fim, Samuel questiona se não havia nenhum outro filho, porque Deus não o havia tocado a respeito dos que tinha visto. Sim, havia mais um filho, este, sem muita importância ficou esquecido no campo junto às ovelhas que cuidava.

Davi era pequeno, magro, ligado às artes, poeta e musico, de coração sensível, estava mais para “bobo da corte” que para Rei. Mandaram chama-lo, e quando este chegou a Samuel, Deus disse: Este é o Rei!  [I Samuel 16}. Samuel então questiona a Deus, sobre o “absurdo” que estava fazendo, ao que recebe de resposta: “O Senhor não vê como o homem, o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração”.

O que Samuel não percebeu é que Deus estava quebrando paradigmas e com isso o preconceito que havia no coração do profeta e do povo. Eles conheciam Saul, o atual Rei, que tinha tudo o que os reis dos povos vizinhos tinham, era o estereótipo de rei bem-sucedido, o modelo ideal, mas que representava um tempo passado, algo que para o atual momento era antiquado e impedia-os de ter experiências mais profundas com Deus.

E assim, Deus estava dizendo a Israel, “vamos mudar as coisas por aqui”, está na hora de viver coisas diferentes, experimentar o novo, façamos loucuras em favor da vida abundante, “a virgem dará luz a uma criança” e nunca mais o mundo será o mesmo. [Isaias 7:14; Isaías 43:19-21]

E no decorrer da historia, podem-se observar várias outras situações parecidas, onde pela fé, homens e mulheres mudaram o status quo, quebrando paradigmas em favor da vida e construindo um novo mundo [Hebreus 11:32-40].

O próprio Jesus era exímio em quebrar paradigmas, em mudar a ordem das coisas, seu discurso era desafiador, dizia: “Ouviste o que foi dito, mas eu, porém vos digo (...)”, por isso sofreu preconceito por parte dos lideres religiosos da época, sendo perseguido e morto.

É evidente que todos nós temos preconceitos, em maior ou menor intensidade, vivemos envoltos em paradigmas. E quando o Apostolo Paulo nos exorta a não julgarmos, ele o faz tendo em mente todas as variáveis da vida, pois, nosso julgamento preconcebido, pode estar intoxicado por um paradigma, que nem ao menos temos a noção de que existe ou que esteja lá [Mateus 15: 19-20].
E como podemos estreitar nossos afetos e relacionamentos, se estivermos atormentados pelo preconceito?

O preconceito tem origem no medo, o medo produz tormento, e atormentados, teremos atitudes de defesa, agredindo o outro, agindo pela lei do “olho por olho e dente por dente”, logo, não seremos aperfeiçoados no amor [I Joao 4:18-21].
 
Quem tem preconceito com negros, é infeliz porque eles deixaram de ser escravos, acredita ainda que são pessoas inferiores e por isso devem ficar excluídos da sociedade. Os homens tem medo da emancipação das mulheres, temem que elas assumam o controle que eles acreditam possuir, assim, se tornam machistas, na ânsia de defender o seu lugar, diminuem, agridem, excluem. Temem que assegurando os direitos civis aos homossexuais, de forma sobrenatural, todos os héteros se transformem em gays, e assim, acabe a família, e toda a estrutura social que conhecemos hoje. E a lista não termina: estrangeiros, pessoas com deficiência, nativos de determinada região, gêneros musicais, lembra-se do rock a “musica do diabo”, do axé, e do funk carioca, tão discriminado, hoje musica de “elite”.
 
Também, entre os próprios cristãos: católicos, protestantes históricos, tradicionais, reformados, pentecostais, avivalistas, neopentecostais; todos a seu modo, temem a mudança do status quo, temem a ruptura com o paradigma que criaram, pois assim, podem perdem seu lugar de poder, perdem sua hegemonia. 

Logo, precisamos de um novo discurso, sobretudo de uma nova práxis, para um novo tempo. Um discurso que reconhece que a verdade nunca foi absoluta, mas que dialoga com o tempo, cultura e experiências de vida.
 
E como conselho dado a crianças, exorto, tenha em ti o mesmo espirito que houve em Cristo, enfrente seus medos, enfrente seus preconceitos, quebre paradigmas, mude o estado das coisas:: quebre o sábado, não apedreje mesmo que a lei ordene isso, fuja da hipocrisia de uma santidade fingida, para que o Reino seja estabelecido.
 
Este é o novo de Deus, novos relacionamento, novos afetos. Não tema ser reconhecido como amigos dos pecadores, não tema ser reconhecido como cristão, até que haja novos céus e nova terra onde reine a justiça, a paz e a alegria.

Este texto foi escrito com base numa conversa realizada com os JBZL (Jovens Betesda Zona Leste), sobre o tema: "Só os preconceituosos herdarão o Reino de Deus" capitulo do livro de Elienai Cabral Junior - E se alguém acender a Luz.
 

sábado, 22 de março de 2014

3 Mêses 4 Livros

Os três primeiros meses deste ano não estão sendo fáceis, haja vista eu não ter nem tempo para incluir as dicas de livros por aqui. Sorte é ainda ter tempo para ler, graças a Deus pelo transporte publico, local onde faço a maior parte de minhas leituras. Então já que consegui uma brecha na agenda, vamos indicar logo 4 livros:

Guia Politicamente Incorreto da Filosofia
Luiz Felipe Pondé

Segundo livro que leio de autor, cujas crônicas na Folha de São Paulo são um show a parte. Oras amado, oras odiado, Pondé consegue nos deixar em saia justa, jogando em nossa cara de maneira irônica, toda as mentiras que tentamos esconder.

Em Guia da Filosofia trata de realizar criticas às afirmações hipócritas da sociedade atual, mas em minha opinião, ele não foi tão feliz quanto em "Contra um Mundo Melhor - Ensaios do Afeto" caiu na tentação de escrever mais do mesmo e o livro ficou enfadonho.

O amor que acende a lua 
Rubem Alves
 
Rubem Alves dispensa apresentações, amo tudo o que ele escreve.
Neste livro em especial, o autor recorda situações de sua vida, tratando cada assunto em uma crescente, aumentando em profundidade à medida que os capítulos vão acontecendo, como as fases da lua.
 
Nota-se no decorrer do livro uma necessidade do autor em despertar no leitor uma imagem espiritual da vida, com reverencia as coisas belas do mundo, como forma de se reaproximar de Deus e da vida abundante que nos prometeu.

Além do Bem e do Mal
Nietzsche

Um livro confuso, como a maioria do autor.
Creio que lê-lo em sequencia como um romance não tenha sido uma boa ideia. Não fica claro onde o autor quer chegar, em alguns momentos parece fazer a critica pela critica, e logo adiante se explica, mas ainda assim, de forma obscura.

Como dito na apresentação do livro: "Nietzsche discute a problemática a seu modo, para ele a questão do bem e do mal, está além da própria moral (...) A solução de Nietzsche é simples, respirar outros ares. Mas é também complexa: voar mais alto, para o alto, acima do bem e do mal." O difícil é conseguir acompanhar este voo.
 
A verdade é a conversa
Elienai Cabral Junior
 
Livro baseado na dissertação de mestrado do autor.
A verdade é a conversa tenta realizar uma aproximação entre filosofia e teologia, através dos pensadores R. Rorty e J.L Segundo. O autor propõe uma aproximação de olhares para a verdade, concebendo-a como processo pedagógico. Uma verdade que se mantem em processo aberto e conversacional, implicando na não exclusão de outros saberes, como os que constituem a experiência de fé.
 
A leitura não é fácil, e para quem não tem claro os conceitos teológicos e filosóficos utilizados, o entendimento pode ficar comprometido. O importante é ler, tendo em mente o foco do autor, a verdade não é um fim em si mesma, ela conversa com a vida e se refaz a medida em que temos novas experiências.