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domingo, 15 de novembro de 2015

NÔMADE

Ayaan Hirsi Ali, uma mulher somali, ex- muçulmana que fugindo de um casamento arranjado por seu pai, se refugia na Europa e depois Estados Unidos, nos revela com sua historia de vida, o que uma cultura de soberania masculina, fortalecida por ritos religiosos pode fazer contra suas mulheres e contra aqueles que se poe a seus dogmas e leis.

Violência doméstica, proibição de estudar, devoção irrestrita aos homens, mutilação genital, esta é a vida de muitas meninas muçulmanas pelo mundo, de acordo com ela. Uma vida de clausura não somente do corpo que em alguns países, precisa estar completamente cobertos, da mente pois são proibidas de estudar, da individualidade pois como propriedades do pai e precisam viver para honra-lo, uma moça "violada" além de vergonha para a família, não tem valor algum no mercado de casamento, mas também na clausura de sua sexualidade, para serem privadas do prazer sexual, são mutiladas ainda meninas, seu clitóris e esmagado e os lábios vaginais costurados para que elas sintam dor. 

O clamor de Ayaan ultrapassa a reclamação de uma rebelde, fugitiva, é o clamor de uma mulher que contra a própria vida, ousou falar contra um sistema que mantém vários povos do mundo e principalmente as mulheres debaixo da pobreza extrema e de condições desumanas com base em um discurso religioso que se utiliza da cultura da violência e do medo para se manter.

Entretanto Ayaan vai além, revela a face extremista de uma religião que segundo consta é a que mais cresce no mundo, o Islamismo. Ela sem medo da pena de morte que recebeu por se dizer uma ex-muçulmana e agora uma infiel - nome dado à todos os que não professam sua fé ou que a deixam - detalha as intenções destes radicais e como estão se infiltrando na Europa e Estados Unidos para colocar em pratica seu plano diabólico de destruição de todo o Ocidente, Para ela, os radicais acreditam estar em uma guerra santa entre Alá e o Profeta e todos aqueles que a partir do Iluminismo, se desviaram da verdade, adotando a razão e a ciência como ponto de apoio para a vida e não mais a fé em Deus.

Para Ayaan, que iniciou sua jornada contra o Islã radical após os atentados terroristas de 11 de Setembro, o que fortalece o Islã  é a vida pre-moderna dos países declarados muçulmanos, pois sua cultura teocrática possibilita a manutenção do poder dos radical por meio da pobreza extrema, violência e  proibição do acesso a educação. O sistema de manipulação o que ela chama de lavagem cerebral é tão planejado que eles atribuem todas as mazelas que subjugam o povo aos "pecados do Ocidente", utilizando se do Alcorão para firmar que todos os que não vivem sob os preceitos de Alá e do Profeta devem ser exterminados. 

Longe de acreditar que todo muçulmano é radical e terrorista, ela nos alerta para o fato de que, desde cedo, todo muçulmano é doutrinado a acreditar que os infiéis devem ser exterminados, e que apenas isto basta para que eles se levantem contra os ocidentais para honrem a Alá e ao Profeta. Para ela, todos são terroristas em potencial, uma vez que já que o fazem com suas mulheres, citando várias referencias do Alcorão em que o Profeta ordena que elas sejam violentadas.

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Nesta semana em que um ataque terrorista em Paris na França matou cerca de 120 pessoas, muito do que Ayaan descreve no livro se torna real, de acordo com a mídia o Estado Islâmico se declarou culpado pelos atentados e esclareceu ser este apenas o começo da vingança de Alá contra Ocidente, e que a França e quem a segue são seu principais alvos.

Durante todas as 384 páginas ela fala muito sobre o Iluminismo, momento histórico do século 18 iniciado na França cujos pilares principais estão a defesa da educação, centralidade da ciência e da razão, a liberdade religiosa e individual e os direitos de igualdade de todos perante a lei. Para ela o Iluminismo propiciou o desenvolvimento do Ocidente e são seus pilares que vão contra os ditames do Islã e são a causa de tamanho ódio e sentimento de vingança.

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Nômade
Aayan Hisri Ali
Companhia das Letras
388 páginas

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