PREFÁCIO
O evangelista João, nos relata que certo dia após Jesus foi ao Templo e grande número de pessoas o rodeou e ele ao começar a ensiná-las, foi confrontado pelos mestres da lei e fariseus que apareceram com um rapaz, pego em comportamentos homossexual. Eles o puseram a vista de todos e disseram: "Mestre, este rapaz é gay, foi apanhado em flagrante. Moisés, na sua Lei, ordenou que fosse morto. O que senhor diz?
Escrito isto, João para a narrativa e nos revela que os religiosos que ali se apresentaram queriam pegar Jesus em uma armadilha, queriam induzi-lo a dizer algo para que o pudessem incriminar.
A narrativa continua, com Jesus abaixado e limitando-se a escrever com o dedo na terra. Mas eles não desistiram. Por fim, ele se levantou e disse: "Quem de vocês não tiver pecado seja o primeiro a atirar a pedra". Encurvando-se novamente, continuou a escrever na terra.
Ouvindo isso, eles começaram a deixar o local, um após o outro, a começar pelos mais velhos. Nota-se que até mesmo os que não estavam envolvidos com a situação, acabaram indo embora.
O rapaz foi deixada ali. Jesus levantou-se e perguntou: "Rapaz, onde eles estão? Ninguém condenou você?" Ninguém senhor, foi a resposta. "Nem eu", disse Jesus. "Siga seu caminho. Mas de agora em diante, não volte a pecar".
João 8: 1-11 - A mulher adultera.
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O texto do Evangelho de João adaptado aqui, não está longe de ser uma realidade em nossos dias. Tão chocante quando o episódio na época em que aconteceu, é ainda hoje a conduta de certas religiões a respeito da aceitação ao não de pessoas homossexuais nas igrejas.
Recentemente, uma igreja Batista em Alagoas, após 10 anos de intensos debates junto a sua comunidade de fé, decidiu em assembleia aceitar pessoas homossexuais como membros. O processo legal e democrático, teve 129 favoráveis, 3 contrários e 15 abstenções. Mas longe de entenderem todo o processo realizado por esta igreja, muitos estão se levantando contra os pastores em notas de repudio, etc. O texto que li a respeito (
AQUI) aparentemente, uma carta do pastor da igreja, expressa que a motivação da comunidade para entrar neste processo foi a alegação de um membro da igreja de ser homossexual. O texto relata que na ocasião houve alguns desconfortos, alguns membros decidiram sair da igreja, mas muito outros se desafiaram a entender e se debruçaram no assunto que culminou na decisão tomada pelo povo.
Fico pensando o quão paciente não foi este "rapaz", aguardando por 10 anos para se ver aceito não apenas pelos irmãos da sua comunidade de fé, mas no que refere-se a igreja, aceito por Deus. Isto, se ele conseguiu suportar. Espero que sim.
Mas não é este o comportamento da maioria dos homossexuais e muito menos das igrejas cristãs. Se o comportamento de ambos fossem realmente bíblico, não existiriam igrejas inclusivas. Este processo já nos é conhecido, explicitamente mostrado no livro de Atos, quando houve uma assembleia para declarar se aceitavam os gentios ou não, contrariando inclusive as ordens de Deus a Pedro: "não considere imundo o que eu santifiquei", (Atos 10)
Longe de ditar regras, falo a partir das minhas experiências neste mesmo processo de aceitação amorosa por uma comunidade de fé. Falo aos homossexuais que desejam fazer parte de uma igreja que não seja uma igreja inclusiva ou igreja gay (como dizem por ai). Gostaria na verdade de esclarecer alguns pontos que considero importantes:
Jesus cura a homofobia, mas...
1. Precisamos também ser curados:
Um grande número de homossexuais sofrem e sofreram em suas relações interpessoais, foram abusados, enganados, rejeitados, violentados e violados no corpo e sentimentos. Devido a isso, possuem dificuldade ao se relacionar, são desconfiados, carentes afetivamente e tornam-se egoístas e mestres em querer ser o centro das atenções. Como resultado, se colocam geralmente, em posição de vitima, tudo é preconceito e discriminação, o que não é verdade.
Enquanto não nos desarmarmos, dificilmente permaneceremos em algum lugar. Uma coisa é certa, mesmo aceitos, nem todas as pessoas irão simpatizar ou ter afinidades conosco, isso faz parte das relações humanas e não quer dizer que por isso, são homofóbicos. Sendo o ambiente relacional da igreja, perfeito para nos dar este equilíbrio, se nesta comunidade a questão é tratada de forma sadia, sem privilégios ou desvantagens.
2. Precisamos praticar a empatia:
A "saída do armário" não é fácil, principalmente para quem tem formação religiosa cristã. Em geral, passasse por conflitos internos que podem gerar até transtornos psicológicos. Considerando que até quem é homossexual tem dificuldades para se aceitar, devido a várias questões pessoais, sociais, religiosas, etc; por qual razão, as pessoas não podem ter o mesmo processo em relação a aceitação da homossexualidade? Porque uma pessoa que acreditou a vida toda que algo é contrário a vontade de Deus precisa que instantaneamente aceitá-la com naturalidade? E este ponto é o que considero o mais critico e controverso.
Entendo que devemos lutar por igualdade de direitos dentro e fora dos círculos religiosos. é maravilhosos ver como a igreja citada acima tratou o tema, e reconhecer a abertura cada dia maior das pessoas pela igualdade de gênero e reconhecimento dos direitos civis. Entretanto, ao falamos de religião, não esta em jogo apenas (como alguns afirmam) a questão moral ou simplesmente teológica. Estamos falando de consciência, visão de mundo, e de uma esperança que direciona toda a vida de uma pessoa, das mais complexas às mais simples decisões. E temos que tomar cuidado em relação a isso.
Jesus nos alertou a "não fazermos aos outros o que não queremos que nos façam" (Mateus 7:12) não queremos aceitar ninguém por imposição como que enfiado goela abaixo, então, não nos façamos aceitar por imposição, além da aceitação, busquemos por respeito, que é o sentimento mais próximo ao amor.
3. Precisamos fortalecer o comportamento cristão
No mesmo capitulo de Mateus, Jesus diz que a "árvore é conhecida por seus frutos" e se nosso desejo é realmente participar ativamente de uma comunidade cristã, faz-se necessário sermos conhecidos por andarmos com integridade. E neste quesito vale outro conselho de Jesus: "Negue-se a si mesmo e depois siga-me", isto é, a estrada será longa e árdua, ande em amor.
O apostolo Paulo é um exemplo de pessoa rejeitada pela igreja e que lutou para ser aceito, em suas cartas há diversas recomendações para alcançarmos o reconhecimento do nosso chamado e nenhuma delas foi por força, mas, por reconhecimento de nele estar o Espirito de Deus.
Eis alguns conselhos:
- Ninguém busque o proveito próprio, mas cada um o que é de outrem (1 Coríntios 10:24 e 39):
Saiba retroceder na busca por sua aceitação quando isto colocar em risco a vida de outras pessoas. Às vezes um passo atrás procede dois à frente. Não podemos ser pedra de tropeço para fazer se perder quem quer que seja, como já citado, precisamos ter empatia e assim como Paulo, se fazer fraco para com o fraco, a fim de ganha-lo.
- Seja praticante de boas obras (1 Pedro 2:12):
Uma das mais nocivas formas de preconceito é aquela que nasce do estereótipo. As pessoas não permitem conhecer o outro, mas o julgam pelas imagens que foram construídas em sua mente sobre determinado assunto. Existe uma caricatura formada a respeito dos gays. Sendo assim, todo gay é afetado, afeminado, escandaloso, se comporta de forma imoral e espalhafatosa, dá em cima de qualquer homem que estiver por perto, etc. Mentira!! Mas trata-se do estereótipo mantido até hoje por grande parte da mídia e reforçado em círculos fundamentalistas para justificar a não aceitação de homossexuais na igreja.
Pedro aconselha que os cristão de sua época andem de maneira honesta, para que naquilo que era dito deles como que de malfeitores, os gentios pudessem glorificar a Deus vendo o seu bom procedimento e boas obras.
Então, manifestem a imagem de Cristo em amor: sejam afetuosos, demostrem amor verdadeiro, não fingido ou apenas de palavras, sejam cordiais, respeitosos, moderados, evitam a aparência do mau.
- Ande de acordo com o que já alcançou (Filipenses 3:16):
Um dos principio declarados em Atos para a eleição ministerial, era o testemunho da comunidade, e se os membros da sua comunidade já o aceitaram e respeitam, fique feliz por isso. Mas não pare!!
Muitos de nós tenham ministérios relacionados ao ensino ou a música, o que nos coloca em evidência em relação as demais, por isso, é necessário ter cautela. Não digo que tenhamos que "enterrar nossos talentos", mas avaliar o momento oportuno para não prejudicarmos o andamento da comunidade.
Neste quesito, proponho a sugestão de Paulo aos Coríntios em relação aos dons, procure o caminho mais excelente: o amor. É pelo amor que as igrejas estão abrindo suas portas e revendo a aceitação ou não de homossexuais, é por reconhecer que a graça de Jesus é para todos sem distinção.
4. Precisamos reconhecer que...
- Não poderemos mudar a Bíblia: A advertência em relação a homossexualidade está e continuará na Bíblia, faz parte de um documento e tem uma razão - histórica e cultural. E é isto que as igrejas estão buscando compreender com maior clareza. Lembrando que há outras séries de advertências e que fazem parte do nosso dia a dia e que não damos tanto peso quanto a esta em especial.
A questão então é, o quanto uma pregação utilizando-se de versos que suportam a condenação de homossexuais me incomoda em relação a todas as outras e principalmente às que afetam o outro?
- O outro também é amado: É muito fácil sairmos de um extremo e irmos ao outro, achando-se tão necessários, fazemos o outro desnecessários. Paulo nos adverte que todos os membros do corpo são necessários, mesmo aqueles que são considerados mais fracos, menos honrosos ou menos decorosos. E afirma ainda que em Cristo todas as paredes de separação sejam de gênero, raça, condição socioeconômica e religiosas, não tem valor algum, todos estão em Cristo e são membros de seu corpo. (1 Coríntios e Gálatas).
Neste processo, tenho visto muitas pessoas sendo descartadas tanto de um lado como do outro, como se a multiforme graça e o amor de Deus não fossem suficientes para nos unir em um único propósito que é fazer o reino de Deus e seu amor conhecidos.
Estejamos atento para não descartarmos o outro apenas por discordar de nós.
- Podemos não viver a promessa: Há no livro de Hebreus (cap.11) um relato surpreendente sobre os heróis da fé, após contar sacrifícios, privações e milagres experimentados por homens como nós, é feita uma afirmação contundente: "e todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa" (vs. 39).
Assim como o rapaz da igreja Batista, aguardou (ou não) por 10 anos, podemos não viver esta transformação, mas o trabalho nunca é vão, preparamos a terra, plantamos e regamos, para que outros possam colher. E esperar com bom testemunho, isto é, com testemunho de fé, faz toda a diferença. Lembre-se que esta mudança não envolve apenas uma compreensão diferente de uma tema bíblico, se fosse assim seria fácil, mas requer uma mudança de mente, coração e comportamento de toda uma geração.
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Voltando ao texto do evangelho de João que abre esta reflexão.
Antes de falar sobre perdão, o texto trás um retrato histórico do judaísmo que era a exclusão de pessoas da congregação ou templo pelos mais diversos motivos: deficiências físicas, nacionalidade, questões rituais, de gênero, e tantas outras consideradas indignas pela Lei de Moises.
Entretanto, muitas delas, foram quebradas no decorrer da historia de Israel, pelo próprio Deus, tendo em vista o favor a vida e considerando a fé disposta no coração das pessoas. Exemplos são: O próprio Moisés, autor da Lei, casado mulher gentia (Deut. 7:13); Raabe a prostituta (Deut. 23:17); Rute, moabita que veio a ser avó do rei Davi, então descendente de moabita (Deut. 23:3) e posteriormente na igreja, o centurião italiano, Cornélio e demais gentios.
Havia porém, em Israel, pessoas que não se opunham diretamente a questão, como as que estavam no templo e cercaram Jesus para ouvi-lo, como haviam também, as que se opunham com veemência, tendo como argumento a Lei, como as que chegaram com o rapaz gay pedindo que Jesus desse seu veredito.
Jesus sabiamente, recorre a uma certeza universal, todos são pecadores, e então, merecedores do mesmo castigo (Romanos 3:23), mas disse Jesus "eu não te condeno", não atribuirei castigo a ninguém (Romanos 3:24-26).
Jesus, ali, faz uma chamada amorosa a todos (Gálatas 3:22-29), para que reconheçam sua condição e recebam pela fé sua graça salvadora. Porém, como vimos, um a um foram se retirando, como que rejeitando a bondade e misericórdia de Deus até que apenas quem teve a coragem de se reconhecer humano e necessitado de Cristo permaneceu.
E será assim, pois já foi assim, ouçamos todos o que o espirito de Deus falou a Pedro: "Não faças tu, comum ou imundo, ao que Deus purificou" (Atos 10).
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POSFÁCIO
"Mas de agora em diante não volte a pecar"
O apóstolo Tiago, declara em um texto maravilhoso que "aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado" (Tiago 4:17); Ele nos adverte ao longo do texto que todo o motivo de contenda, guerras e desavenças, deve-se àquilo que está dentro de nós: desejos, cobiça, inveja, maledicência, julgamentos e presunções. Com ele, confirma Paulo, quando diz que "o bem que quero fazer, não faço, mas o mal que não quero, este faço". Entretanto, Jesus é o nosso modelo de bondade (Atos 10:38).
A advertência de Jesus, diz mais sobre o fato de que, a partir da graça, deve-se viver uma vida integra, honesta e digna, evitando assim, que seus acusadores tenham motivos para novamente o atacar e, quem sabe matar, que da obrigatoriedade de se viver uma vida sem pecados. Pois, assim com fizeram a Jesus, movidos pelo ódio, inveja e ganancia o mataram, poderiam fazer também a ele
- "Seus algozes estarão a espreita, tenha cautela no caminho".
A recomendação fala sobre aqueles que não conseguem reconhecer o amor de Deus e por isso nunca se darão vencidos pela graça - "o amor encobre a multidão de pecados" (1 Pedro 4:8) - diz sobre aqueles que não conseguem reconhecer seus próprios pecados - "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós." (1 João 1:8) - fala sobre aqueles que odeiam os irmãos - "mas aquele que odeia a seu irmão esta em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deve ir, porque as trevas lhe cegaram os olhos". (1 João 2:11) - é uma advertência contra os que não conhecem a Deus - "quem não ama, não conhece a Deus; porque Deus é amor" (1 João 4:8).
E aos que continuarão crendo que homossexualidade é pecado, peço que continuem orando, também creio que Deus é poderoso para agir mudando o nosso coração, ou mudando o seu.
"Por esta causa dobro os meus joelhos ao Pai, de quem toma o nome toda a família nos céus e sobre a terra, para que ele vos conceda, conforme as riquezas da sua glória, que sejais robustecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior; que habite Cristo pela fé em vossos corações, sendo vós arraigados e fundados em amor, a fim de poderdes compreender com todos os santos qual é a largura e o comprimento e a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que sobrepuja a ciência, para que sejais cheios até a inteira plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, segundo o poder que opera em nós. Efésios 3:14-20
E a quem destinei esta reflexão, homossexuais cristãos:
"Sabendo que, se o nosso coração nos condena,
maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas.
Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus" - 1 João 3:20,21