"A igreja tem a obrigação
incondicional com as vítimas de qualquer ordem da sociedade, mesmo que elas não
pertençam a comunidade cristã. Como está escrito em Gálatas: Façamos o bem a
todos!"
Ao ler esta frase no livro de
Bonhoeffer, fiquei pensando nas coisas profundas que ela expressa, e em tão
distante da realidade cristã ela está, pelo menos da grande maioria cristã. É
só fazer uma analise da intolerância sofrida por diferentes grupos: índios
brasileiros, negros americanos, judeus e poloneses na Segunda Guerra, os protestantes
na inquisição; mais recentemente, temos os divorciados, os pais solteiros, e isto
para citar apenas os mais conhecidos. Quantas barbáries sofreram em nome da
religião, ou de um deus que faz justiça contra os “pecadores”.
É certo que não podemos generalizar,
pois tivemos nestes tempos, vozes proféticas que se levantaram contra o
espírito do Anticristo que tomava conta da igreja: Martin Lutther King, o
próprio Bonhoeffer, entre outros.
Ao ler o discurso do Apostolo Paulo
aos Romanos dizendo: “Honra e paz a
qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e depois ao grego; Pois para
Deus não há acepção de pessoas” [Rm 2: 10—11] e confrontando com as
palavras a seguir de um tele evangelista ao falar sobre os gays: “Na igreja evangélica, gay só entra caso
queira se converter e, para isso, tem que se tornar heterossexual. Depende
deles, portanto mudar sua opção sexual para serem aceitos na nossa comunidade“
penso: O que está errado?
Como um click no search do meu
computador, minha mente vasculha meu cérebro em busca de mais referencias que
invalidem o discurso fundamentalista sem fundamentos, e encontro, uma, duas,
não! Mas uma serie de referencias em que Jesus condena os religiosos por
impedirem que as pessoas se acheguem a ele: “Deixai
vir a mim os pequeninos, não os impeçais, pois deles é o reino dos céus” e
ainda “Não considereis comum ou impuro
aquilo que Deus purificou” [Atos 10: 15]. E arrazoando em meus pensamentos,
sou levado a outras questões: Quem é que convence o homem do pecado? Quem é que
transforma? Senão o próprio Deus que opera em nós o querer e o realizar, segundo
a sua vontade.
E porque proibir o acesso à igreja?
Porque digladiar, e afastar, servindo de pedra de tropeço àqueles que querem se
achegar a Deus, sob o pretexto de estar defendendo a família e os bons
costumes? Não foi o Cristo que disse: “Não
necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes (...) Porque eu não viam a
chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.”
Quando
excluímos qualquer pessoa da comunidade da fé, sobre qualquer justificativa,
estamos fechando as portas do Reino e da Salvação para ela, e nos fazemos
culpados pelo sangue daqueles que não alcançarem o arrependimento. Se esquecem do
alerta de Jesus: "Ai de vocês,
mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos
homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de
fazê-lo”. [Mateus 23:13]
E assim, Pedro
também agiu, fundamentado na Lei de Moisés, dissimulou para preservar a sua
imagem de “santo”, porém se esqueceu do que Deus havia dito a ele pouco antes. Nesta
situação, Pedro estava comendo com gentios [o que era proibido para judeus,
porém abolido por Deus conforme texto de Atos 10] porém, ao perceber os demais
irmãos chegando, foi se retirando, temendo o que pensariam dele. Foi
severamente repreendido por Paulo.
Assim como Deus ama o pecador, e abomina o pecado, gritam em alta voz: Amamos
os homossexuais, mas não o seu comportamento, no entanto, não permitem que eles
façam parte da sua comunidade. Onde está a demonstração de amor?
“Resguardar a própria
reputação, fazendo acepção de pessoas, para quem se diz cristão, é não
resguardar a reputação de Cristo”.
Sendo assim tenho que concordar com Gandhi: “Eu gosto do
seu Cristo, mas não de seus cristãos. Seus cristãos são tão diferentes de seu
cristo”.
Pois veio o
Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de
vinho, amigo dos publicanos e pecadores. [Lucas 7:34]
Espero o tempo em que a voz dos Filhos de Deus será mais alta que a voz da religião.
Ore por isso!