Para qualquer cristão, um livro com este nome é no mínimo uma leitura interessante. Faz parte da cultura evangélica o desejo de conhecer o futuro, de saber os sinais do apocalipse e de como se manifestará aquele que a bíblia deixa entender que conduzirá a maior perseguição à cristãos antes do arrebatamento da igreja.
Mas o que dizer de um livro escrito por um filosofo que declarou "Deus está morto"? A leitura passa de interessante para algo abominável. Creio que este livro faz parte daqueles que por muito tempo foram proibidos nos círculos eclesiásticos., e que se tivesse sido escrito na época da inquisição, com certeza Nietzsche seria morto na fogueira.
Porém, antes da critica pela critica, precisamos conhecer as motivações não só externas, aparentes, mas as internas, aquelas que estão submersas em nosso inconsciente. Após a leitura, que confesso não foi nada fácil [tive que ler duas vezes], apesar de concordar e muito com o autor, quis entender mais sobre sua vida, pois, não me incomodou tanto o fato de discordar do cristianismo, mas o ódio com que faz isso, este sentimento permeia todo o livro.
Nietzsche, era alemão de família cristã de tradição luterana, e seu pai um pastor que morreu quando ele ainda era criança. No filme "Quando Nietzsche chorou" o autor revela o sentimento de solidão que perseguia o filosofo, e um sonho terrível com seu pai, que saia do tumulo para busca-lo. Logo pensei, será que a morte de seu pai, não fez com quem Nietzsche se revoltasse com Deus, como acontece a muitas pessoas? Nunca saberei. Fato é que o livro faz severas criticas ao cristianismo, e muitas de suas afirmações chegam a ser quase proféticas.
Faz-se importante ao ler este livro conhecer a historia da igreja em todas as suas ramificações e muito das profecias dos Apóstolos acerca da apostasia e da infiltração de falsos mestres. Muito do que Nietzsche condena no cristianismo de sua época, é fruto disto. Algumas de suas condenações são tão atuais que parece que está falando dos neopentecostais do nosso tempo.
Listo alguns dos pensamentos aos quais vale a pena refletir:
- O cristianismo, tomou partido de tudo o que é fraco, baixo e fracassado; forjou seu ideal a partir da oposição a todos os instintos de preservação da vida saudável; corrompeu até mesmo as faculdades daquelas naturezas intelectualmente mais vigorosas, ensinando que os valores intelectuais elevados são apenas pecados, descaminhos, tentações.
- Após o conceito de "natural" ter sido usado como oposto ao conceito de "Deus", a palavra "natural" forçosamente tomou o significado de abominável - todo este mundo fictício tem sua origem no ódio contra o natural.
- O cristianismo de fato nega a igreja.
- A igreja era uma insurreição contra os "bons e os justos", contra toda a hierarquia social, contra as castas, os privilégios, a ordem, o formalismo.
- O profundo instinto que leva o cristão a viver de modo que se sinta no céu e imortal, apesar das muitas razões para sentir que não está no céu: essa é a única realidade psicológica na salvação - uma nova vida, não uma nova fé.
- Os homens criaram a igreja a partir da negação do evangelho.
- Com toda a difusão do cristianismo entre massas mais vastas e incultas, ate mesmo incapazes de compreender os princípios dos quais nasceu, surgiu a necessidade de torna-lo mais vulgar e bárbaro - absorveu os ensinamentos e rituais de todos os cultos subterrâneos do império romano e as absurdidades engendradas por todo o tipo de raciocínio doentio.
- Apenas a pratica cristã, a vida vivida por aquele que morreu na cruz, é cristã. Hoje tal vida ainda é possível, e para certos homens até necessária: o cristianismo primitivo, genuíno, continuará sendo possível em quaisquer época. Não fá, mas atos; acima de tudo um evitar atos, um modo diferente de ser.
- Reduzir o ato ser cristão, o estado de cristianismo, a uma aceitação da verdade, a um mero fenômeno de consciência, equivale a formular uma negação do cristianismo.
- O primeiro cristão e também, receio o ultimo cristão, é um rebelde por profundo instinto contra tudo o que é privilégio - vive e guerreia sempre pela "igualdade de direitos".
- O movimento cristão, enquanto movimento Europeu, desde o começo não foi mais que uma sublevação de toda espécie de elementos desterrados e refugados - que agora, sob a mascara do cristianismo, aspiram o poder.
- A maneira como um teólogo (pastor ou padre), seja em Berlim ou em Roma, explica digamos uma passagem bíblica, ou um acontecimento, por exemplo, a vitória do exercito nacional, sob a sublime luz dos Salmos de Davi, é sempre tão ousada, que faz um filólogo subir pelas paredes.
- A humanidade prefere observar poses ao ouvir razões.
Leitura não recomendada para cristão fanáticos!
Também não recomendo para quem não gosta de desilusão.
Talvez a chave para compreender os pontos de vista de Nietzsche seja, justamente, o seu ódio direcionado ao cristianismo. Infelizmente, o ódio distorce a visão e leva à interpretação errônea até dos fatos históricos. O que me ajuda a tentar enxergar o cristianismo de outra forma, é a promessa de Jesus: "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade" [João 16:13]. Ao analisarmos a história da Igreja, por exemplo a sua relação com a ciência, podemos notar que ela sempre demorou muito a aceitar qualquer novidade (o que vemos também hoje), mas na maioria das vezes acabou reconhecendo a veracidade das afirmações da ciência. Não se pode negar, também, que as maiores universidades têm sido criados pela Igreja. Enfim, só espero que as palavras de Nietzsche não tenham prejudicado a sua fé e o seu amor. Grande abraço!
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