Pages

sexta-feira, 22 de março de 2013

ESTRANHO DESENCONTRO



São Paulo, Segunda-feira, estação Penha do metrô. Quem viaja com este transporte público sabe bem como são as segundas-feiras, a situação piora muito em dias chuvosos. E era um dia assim.

Ela costuma pegar o trem vazio que passa entre as 7h45 e 8h10. Ao olhar para o relógio, percebeu que marcavam 8h20 e não podia chegar atrasada ao trabalho, uma reunião com cliente a aguardava. Esperou apenas um trem onde houvesse um espaço para se acomoda, quase impossível em dias como este.

Ele, que tinha fama de atrasado, entrou no primeiro trem que passou isto, duas estações antes. Estava a procura de emprego e teria uma entrevista, a vaga era boa e estava muito ansioso.

Não ficaram próximos, estavam em lados opostos, mas duas estações depois foram obrigados a se encontrar.  O empurra-empurra os colocou frente a frente.

Ela envergonhada colocou a mochila a frente do corpo, como para se defender, mantendo uma distancia segura. Pensava: “ele é lindo, mas nunca se sabe”. Dava para ver no olhar dela que estava sem graça. Ele, também colocou a mochila que carregava a frente do corpo, como que dizendo: “sou um bom rapaz”.

A medida que o trem enchia, mais se aproximavam, e a situação ficou muito chata. Ele também a achou linda, mas não tinha coragem de olhá-la. Com a cabeça erguida contemplava o teto, respirava fundo, então sentia um doce perfume e pensava: “preciso falar com ela”, mas tinha medo, quando ansioso demais, gaguejava um pouco.

Ela era conhecida como uma menina forte, decidida, idealista. Dele, os amigos brincavam dizendo que esperava a princesa chegar num cavalo branco.

E assim, passaram-se 20 minutos de viagem, desconcertados.

O maquinista anunciou a próxima estação, era onde ele desembarcaria, ela desceria duas depois. As portas se abriram e o empurra-empurra recomeçou. Estação Sé, sempre assim.

Ela ficou olhando para ele enquanto desembarcava, quase extasiada. Ele deu alguns passou, parou, esperou a multidão passar e olhou para trás. Pela primeira vez seus olhos se cruzaram. Foram apenas 5 segundos, que parecera uma eternidade. Acordaram com o apito informando que as portas se fechariam.

Ela abaixou a cabeça e perguntou-se: “Porque minha mãe sempre me amedrontou para não falar com estranhos?”. Ele, atrasado, correu para a entrevista, passou, naquele dia, ele não gaguejou.

Dizem que agora, ela não espera mais o trem vazio, pega o primeiro que passar, sempre as 8h20. Ele faz um percurso mais longo de ônibus para pegar o trem na estação Penha, mas nunca mais se encontrara....até hoje.

0 comentários:

Postar um comentário

Concorde, argumente, discorde. Expressar a opinião, está bem longe de ataques pessoais a quem você não conhece. Seja educado e seu comentário será ativado.