São Paulo, Segunda-feira, estação
Penha do metrô. Quem viaja com este transporte público sabe bem como são as
segundas-feiras, a situação piora muito em dias chuvosos. E era um dia assim.
Ela costuma pegar o trem vazio
que passa entre as 7h45 e 8h10. Ao olhar para o relógio, percebeu que marcavam
8h20 e não podia chegar atrasada ao trabalho, uma reunião com cliente a
aguardava. Esperou apenas um trem onde houvesse um espaço para se acomoda,
quase impossível em dias como este.
Ele, que tinha fama de atrasado,
entrou no primeiro trem que passou isto, duas estações antes. Estava a procura
de emprego e teria uma entrevista, a vaga era boa e estava muito ansioso.
Não ficaram próximos, estavam em
lados opostos, mas duas estações depois foram obrigados a se encontrar. O empurra-empurra os colocou frente a frente.
Ela envergonhada colocou a
mochila a frente do corpo, como para se defender, mantendo uma distancia
segura. Pensava: “ele é lindo, mas nunca se sabe”. Dava para ver no olhar dela
que estava sem graça. Ele, também colocou a mochila que carregava a frente do
corpo, como que dizendo: “sou um bom rapaz”.
A medida que o trem enchia, mais
se aproximavam, e a situação ficou muito chata. Ele também a achou linda, mas não
tinha coragem de olhá-la. Com a cabeça erguida contemplava o teto, respirava
fundo, então sentia um doce perfume e pensava: “preciso falar com ela”, mas
tinha medo, quando ansioso demais, gaguejava um pouco.
Ela era conhecida como uma menina
forte, decidida, idealista. Dele, os amigos brincavam dizendo que esperava a
princesa chegar num cavalo branco.
E assim, passaram-se 20 minutos
de viagem, desconcertados.
O maquinista anunciou a próxima
estação, era onde ele desembarcaria, ela desceria duas depois. As portas se
abriram e o empurra-empurra recomeçou. Estação Sé, sempre assim.
Ela ficou olhando para ele
enquanto desembarcava, quase extasiada. Ele deu alguns passou, parou, esperou a
multidão passar e olhou para trás. Pela primeira vez seus olhos se cruzaram.
Foram apenas 5 segundos, que parecera uma eternidade. Acordaram com o apito
informando que as portas se fechariam.
Ela abaixou a cabeça e perguntou-se:
“Porque minha mãe sempre me amedrontou para não falar com estranhos?”. Ele,
atrasado, correu para a entrevista, passou, naquele dia, ele não gaguejou.
Dizem que agora, ela não espera
mais o trem vazio, pega o primeiro que passar, sempre as 8h20. Ele faz um
percurso mais longo de ônibus para pegar o trem na estação Penha, mas nunca
mais se encontrara....até hoje.
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