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domingo, 3 de abril de 2011

NO LIXO


Eu estava ali há algum tempo, parado, branco, virgem. Ele estava ali, me olhando fixamente não fazia muito tempo. Percebia seus olhos piscarem lentamente. De repente ele lambeu os próprios lábios, tirou o lápis de trás da orelha e como quem ruma para uma batalha, veio em minha direção.

Tomou-me em suas mãos e começou a escrever. Sentia o lápis correr sobre mim, me senti vivo, completo. A força com que deslizava sobre mim era tão intensa, podia sentir o poder das palavras, sua ânsia em por pra fora todos os sentimentos outrora reprimidos. Elas descreviam o amor com tanta beleza e verdade, que podia senti-lo.

Em dado momento ele parou, seus olhos me fitaram com tanta profundidade, vi uma lágrima nascer, crescer e correr a sua face. Foi quando de súbito ele levantou, abriu a gaveta, pegou algo e começou a esfregar em mim, me forçando contra a mesa. Sua força era tamanha, quase uma violência, sentia como se algo estivesse sendo arrancado de mim, senti dores e tudo o que havia escrito não existia mais. Seus olhos estavam vermelhos, as lagrimas banhavam seu rosto, soluços, suspiros, respiração ofegante.

Foi quando senti suas mãos me pegando, uma dor profunda me tomou, ele me amassava, podia sentir a dor, o ódio era tão grande quanto o amor que havia colocado naquelas primeiras palavras. Ele caminhou, me apertava tanto que achei que não suportaria, senti que suava e tremia.

Quando dei por mim estava aqui, neste lugar escuro, junto com vários outros, que antes de mim foram tomados com paixão.

Pergunto: Onde estou?

Ouço uma voz, mas está tão escuro que não sei de onde vem, ela diz: No lixo!!

2 comentários:

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