Um ano para esquecer?
Não!
Não posso esquecer o ano em que o descaso das autoridades gerou mais de 200 mil mortes. E ficamos passivos e calados. Só quem viu nossa indignação foram as redes sociais.
Não posso esquecer o ano em que ficou evidente que não ser um cidadão politico é muito prejudicial. Ficar em cima do muro e deixar que decidam por você, a vida ou a morte.
Não posso esquecer o ano em que 22 crianças negras foram baleadas e/ou assassinadas enquanto brincavam.
Não posso esquecer o ano em que o racismo, o femininístico e toda sorte de preconceitos mostraram a cara, quando todos acreditaram que a pandemia traria solidariedade e tolerância.
Não posso esquecer o ano em que não acreditei que as pessoas evoluiriam, mas antes, mostrariam pelo individualismo, sua face mais cruel.
Não posso esquecer o ano em que a ausências - além da morte - também doem e a saudade bate com a mesma intensidade.
Não posso esquecer o ano em que a morte mexeu tanto comigo. E eu, que acreditava ser resolvido neste assunto.
Não posso esquecer o ano em que vi meus amigos sofrerem sem poder estar por perto para dar uma abraço forte e silencioso.
Não posso esquecer o ano em que mais uma vez, tive transtorno de ansiedade generalizado com uma intensidade assustadora e isso durante as férias.
Não posso esquecer a dor, o medo, a vontade de morrer, o choro e a revolta.
2020
Um ano para esquecer?
Não!
Não posso esquecer o ano em que minha família sentou para colocar as mágoas do passado para fora e assim, seguirmos em frente.
Não posso esquecer o ano em que vi uma igreja pequena realizar, acima da sua capacidade, aquilo que prega e mesmo fechada, ser igreja nas ruas, nos asilos, nos orfanatos e até online.
Não posso esquecer o ano em que novamente o amor ao pastoreio e à música voltaram a queimar em meu coração.
Não posso esquecer o ano em que decidi tirar alguns projetos pessoais da gaveta, escondidos há mais de 20 anos.
Não posso esquecer o ano em que meu marido se dedicou com afinco a obras assistenciais e decidiu cantar no louvor da igreja e, mesmo sem perceber, foi inspirando outros. E eu decidi ir junto, mas só em 2021.
Não posso esquecer o ano em que tive que trocar os livros pelas séries, adorei Merlí e Anne, mas já passou, era paixão. Os livros estão de volta.
Não posso esquecer o ano em que meu pais pegaram covid e sobreviveram.
Não posso esquecer o ano em que me tornei tio avô, Miguel esta à caminho.
2020 um ano para NÃO esquecer....
Que a vida é esta corda bamba que andamos entre alegrias e dores, inexplicável e bela.
Que a vida é muito mais que o que temos ou produzimos, são os relacionamentos, afetos e presenças.
Que Deus é misericordioso.
E que, em meio ao caos, também podemos enxergar a beleza e a esperança
Respirando. Suspirando. Inspirando.