Algum dia, ouvi referencia a esta
oração de tradição judaica, chamada de “Bênçãos Matinais” que deveria ser
recitada todas as manhãs: “Oh Senhor, obrigado por não ter nascido
gentio, escravo e nem mulher”.
E antes de conhecer os porquês da oração, a primeira coisa que me veio à mente foi machismo e preconceito. Mas como tudo o que diz respeito à espiritualidade é mais profundo, e como cristão sei disso, não me deixei levar pela simples letra. Infelizmente nem todos fazem isso.
Por melhor que seja o poeta, as
palavras nunca conseguem transmitir com exatidão a essência do pensamento, não
pelo poeta, que se esforça em ser exato, mas pela interpretação do outro, que
resignificará cada palavra, de acordo com sua percepção, sentimentos e modo de
vida. E geralmente é isso o que acontece, resignificamos tudo,
descaracterizando verdades.
Já parou para pensar o poder que isso tem nas
mãos de quem usa a religião e tem um coração maligno?
Se abordarmos um judeu genuíno,
ele irá nos dar razões coerentes para não acreditar que em sua essência a
oração não seja machista ou preconceituosa, pois tem o coração puro e voltado
para Deus. Porém essa não é a realidade da maioria, e a história nos mostra que
muitos foram subjulgados, por causa da má interpretação de orações e de muitos
outros escritos sagrados, haja vista a Inquisição. E é o que ainda hoje acontece,
pela falta de discernimento, e de corações corruptos.
De onde surge o preconceito, se
não, de um conceito formado com base em mentiras, textos fora de contextos, ou
mesmo na falta de informação e experiência de vida.
Imagino esta oração sendo feita
por um homem e logo depois ele maltratando sua esposa, filha ou mesmo escrava,
e sentindo-se bem com isso, pensando estar agradando a deus. Imagino esta cena
sendo repetida na frente de seu filho, que pela inexperiência, acredita que uma
coisa está ligada a outra. E isto sendo repetido pelo filho e pelo filho de seu
filho, até que esse comportamento tenha se tonado culturalmente aceito nesta
familia. Imagino esse filho, tornando-se líder espiritual de um povo, e levando
este comportamento aos homens da sua cidade, como sendo algo requerido por
Deus, e com isso, as mulheres, ao invés de tomarem posição contraria, acabam aceitando
a dominação e a humilhação violenta, também acreditando estar agradando a deus.
E o ORGULHO de ser homem é
instituído, subjulgado as mulheres e ferindo os homens que não aceitam este
comportamento hostil, nasce o MACHISMO.
Quando o preconceito se enraíza
em forma de cultura e é absorvido por todas as áreas da sociedade, passamos a
acreditar que não há mais chance de mudança, e se revoltar parece ser a melhor
saída, porém não é.
É fácil perceber isso, olhando
para a história da emancipação feminina: quando elas quiseram estar em pé de
igualdade com os homens, criaram preconceito contra aquelas que ainda queriam
permanecer donas de casa, cuidando dos filhos. Um dos erros do movimento
feminista foi na ânsia pela liberdade, não conseguir transmitir com clareza que
não queriam ser homens.
Fica evidente que levantar a
bandeira do orgulho de SER ou de não de SER algo, só nos leva a mais
preconceito. E é isso que acontece hoje com
todas as minorias que lutam por emancipação, criam mais preconceitos ao
levantarem suas bandeiras de ORGULHO DE SER.