“Ele me falou de pessoas que provaram a rejeição e vêem a igreja como um lugar que enfatiza as falhas delas. Quando convido meus amigos, eles não se sentem bem na igreja. Sentem-se deslocados. Na opinião deles, as pessoas que vão a igreja são muito unidas. Elas se vestem bem, têm família e emprego. A vida delas funciona. Nossa vida é uma confusão. Preferimos ficar sentados de jeans e camiseta, fumando um cigarro ou tomando café e sendo completamente sinceros uns com os outros.” - Trecho do Livro: Pra que serve Deus – Philip Yancey – capitulo 9 pag.231 e 232.
É engraçado como algumas situações se tornam tão familiares, conheço muitas pessoas que se sentem assim em relação à igreja, e quando li, também me identifiquei.
Infelizmente a Teologia da Prosperidade e a Confissão Positiva, doutrinas disseminadas na maioria das igrejas evangélicas, ensinam as pessoas a “profetizar” dizendo: “Tudo vai bem!” por que um crente precisa andar de “glória em glória e de vitória em vitória”, sua vida tem que funcionar, você precisa “estar em cima e não embaixo”, tem que “ser cabeça e não calda” e se as coisas não vão bem, por qualquer motivo, é sinal “evidente” de pecado oculto, maldição hereditária, falta de fé, etc. O que impulsiona a pessoa a declarar que “está tudo bem” para não ser excluída do grupo ou mesmo levantar suspeitas de pecados, criando quase que como numa produção em série, pessoas condicionadas a fantasiar uma vida que não possuem.
Esse ambiente de hipocrisia, onde as pessoas não falam e não se comportam com sinceridade, criado para manter uma aparente imagem de BEM–AVENTURANÇA foi enfaticamente criticada por Jesus, pois, afastam aqueles a quem a igreja verdadeiramente deveria acolher. Porém quando estamos inseridos e acostumados a “tapar o sol com a peneira”, não percebemos o quanto este ambiente pode ser nocivo, para nossa saúde espiritual e psicológica. Nicodemos demorou a perceber a lição que Jesus estava lhe dando sobre “ser uma nova criatura”.
Lendo os evangelhos e as cartas dos apóstolos, me deparo com outra realidade, uma realidade de acolhimento aos marginalizados, de comunhão com os humildes, com os fracos, com aqueles que a vida estava uma confusão, cercados de pecados e que aceitaram um caminho diferente a trilhar, acreditando no EVANGELHO e não em soluções mágicas, imediatistas e com resultados superficiais.
Jesus declarou que “são os doentes que precisam de médicos” e que “não veio chamar os justos e sim os pecadores ao arrependimento” e ainda que “os céus fazem festa por um pecador que se arrepende, mais que por 99 justos que não necessitam de arrependimento”.
Quem está inserido na igreja, fica chocado quando ouve de pais espancando os filhos ou a esposa, adolescentes grávidas, adultérios, divórcio, roubos, corrupção, mentiras ou pessoas sofrendo de depressão ou algum distúrbio psicológico causado por pressão, estresse ou trauma. Foram sugestionadas a acreditar que a igreja é o “mundo de Alice – UMA MARAVILHA” quando a realidade é outra. As aparências enganam, mas o que está no interior um dia chega à superfície. E a causa dessas coisas nunca é tratada, são acobertadas, não há abertura para se falar de conflitos interiores, exporem dúvidas e sentimentos contrários ou situações complicadas que envolvam vícios ou mesmo assédio. A palavra de ordem é a vitória em todas as áreas. E colocamos a realidade da vida em baixo do tapete, por que é mais fácil ter pessoas bem vestidas, aspirando uma vida exemplar, com carros do ano, conta bancária no azul e declarando vitória, que um bando de pecadores confessos buscando mudança genuína de vida interior, como num encontro de Alcoólicos Anônimos.
Assim o ambiente que deveria ser de perdão, misericórdia, aconselhamento e apoio para mudanças interiores se tornam um ambiente de acusações e peso contra aqueles que não conseguem esconder suas verdades e sentem-se indignos da graça de Deus, pois não conseguem ser certinhos, santinhos e comerciais ambulantes de igrejas que acreditam ser o paraíso na terra.
Por este motivo, muitos estão deixando a igreja institucionalizada e procurando grupos menores, onde possam compartilhar sua vida em relacionamentos genuínos. Elas já não conseguem esconder quem são, não admitem mais tentar mentir para Deus, vivendo de aparências para manter um status valido apenas nesta terra. Não estão criando assim um novo modelo de igreja, e sim resgatando a sua essência:
“Membro de um corpo, ligados pelo Espírito, cooperando uns com os outros, em favor uns dos outros, para crescimento e aperfeiçoamento, até que todos cheguem à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” - porções de Coríntios e Efésios.
Mas não muito longe, há um grupo decepcionado com essa "manipulação" da igreja, e por isso, preferem uma mesa de bar e um copo de cerveja, pois lá encontram seus iguais e não são envergonhados ou acusados, porém ainda aguardam encontrar um ambiente onde possam compartilhar suas deficiencias e mais que isso, apoio para serem transformadas de dentro para fora.
Vamos lá?
Pense nisso!