Nesta última semana tivemos uma polêmica envolvendo um famoso pastor Batista por causa de um trecho de uma pregação descontextualizada de seu todo. A fatídica pregação aconteceu há uma semana do Halloween e os caçadores de Bruxas e de hereges já estavam a postos e a fogueira da perseguição foi grande. Nada novo debaixo do sol. No trecho da mensagem usado para lançar o pastor na santa fogueira da inquisição, a mensagem gira em todos de uma "atualização das escrituras". Ele diz que precisamos como Igreja ter a coragem de enfrentar a legitimação do pecado de violência de gênero em nossa sociedade. Pecado apoiado por uma leitura literal e descontextualizada - temporal e culturalmente - de pequenos trechos das Escrituras. E para que isso aconteça, precisamos atualizar a nossa leitura das escrituras, pois sem isso a Igreja esta fadada a se tornar um "texto morto que descreve um velho mundo e não uma carta viva para o novo mundo'.
Entretanto, os caçadores de bruxas não possuem a sensibilidade para entender, que não é a fala do pastor que está em desacordo com as Escrituras, e sim, seu olhar "prisioneiro do dogma, refém da religião e escravo da teologia" (Pastor Daniel Santos - AQUI) o que é perigoso demais para a fé cristã.
Em toda a Escritura, homens e mulheres são chamados por Deus para se opor a estruturas de poder e lutar pela causa dos oprimidos e marginalizados. E na voz dos profetas, o Espírito de Deus conclama o Dia do Senhor, em que se levantaria Àquele que restauraria a verdadeira religião, descrito na profecia de Isaías 58 e 61 e que tem seu cumprimento em Jesus Cristo.
Jesus, em sua ousadia dizia: "Ouviste o que foi dito, eu porém vos digo", Carlos Mesters (2017) nos explica que "Jesus tem uma atitude de ruptura e de continuidade. Ele rompe com as interpretações erradas que se fechavam na prisão da letra, mas reafirma categoricamente o objetivo último da lei: alcançar a justiça maior que é o Amor".
Ao reinterpretar pontos das Escrituras caros para os religiosos, Jesus favorece a vida em detrimento da Lei e da religião para dar dignidade aos menos favorecidos: comendo e bebendo com pecadores e prostitutas, usando a água da purificação ritual transformando-as em vinho para manter a alegria em um casamento, curando no sábado, abençoando crianças, operando milagres em terra estrangeira, defendendo uma mulher pega em adultério, visitando um cobrador de impostos, tocando leprosos, cegos e endemoninhados, pessoas com hemorragia e mortos. Além de denunciar as estruturas de poder, dominação e corrupção do templo de Jerusalém e das sinagogas, e por isso, foi perseguido e assassinado.
Os primeiros cristãos e Apóstolos, mesmo após o Dia de Pentecoste - onde judeus cheio Espirito falarem em outras línguas e estrangeiros ouvirem em sua linguá materna a mensagem de salvação, creram e foram batizados (Atos 2) - quando a questão da aceitação dos gentios surge, imposições humanas se opõem fortemente ao mover do Espírito. O apóstolo Pedro, mesmo sabendo que Deus o enviara à casa de Cornélio, ainda firmava seu olhar nas regras humanas: "Vós bem sabeis que não é lícito a um homem judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo. E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; Atos 10: 28 e 34. E em Jerusalém, Pedro foi recebido com grande reprovação e oposição.
Mais tarde, alguns "irmãos" pregavam que sem circuncisão os gentios não poderiam ser salvos, estes eram apoiados por alguns fariseus que tinham crido, o que gerou grande discussão e contenda. Reunidos Apóstolos e anciãos da Igreja, passaram a considerar sobre o assunto. Paulo se levanta para lembra-los que "Deus não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé (...) Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também. Atos 15: 9-11" - também são lembrados da situação de Pedro e do que foi dito pelos Profetas, e então decidiram:
Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá. Atos 15:28,29
As escrituras mostram que este tipo de religioso, avessos a atualização das escrituras, atuam em causa própria para defender um estado de coisas que beneficiam apenas a si próprios e, enquanto criticam e perseguem quem ousa romper com uma religião tóxica, fazem seus updates infernais para manter seu domínio sobre o povo.
"Assim, pois, a palavra do Senhor lhes será mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali; para que vão, e caiam para trás, e se quebrantem e se enlacem, e sejam presos. Ouvi, pois, a palavra do Senhor, homens escarnecedores, que dominais este povo que está em Jerusalém. Porquanto dizeis: Fizemos aliança com a morte, e com o inferno fizemos acordo; quando passar o dilúvio do açoite, não chegará a nós, porque pusemos a mentira por nosso refúgio, e debaixo da falsidade nos escondemos (...) Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído" - Isaías 28:13-15 e 29:13.
E em muitos de seus discursos Jesus conclama o povo a buscar uma justiça maior que aquela pregada pelos religiosos de sua época, pautadas em regras, dogmas e preceitos - "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus." Mateus 5:20, e ainda:
Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los; Mateus 23:2-4
E o que temos visto ainda hoje em nossas igrejas é que alguns, chamados de pastores e mestres da religião, adotam uma postura contrária ao Espirito de Cristo, resistem a graça salvadora e não se atentam aos conselhos do Apóstolo dos Gentios:
"Tenham cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo (...) Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne. Colossenses 2: 8; 20-23
Querem manter intacta a instituição lucrativa a que chamam de igreja, sua religião e suas doutrinas. Não honram a memória de Cristo nem dos mártires e reformadores da Igreja. Seu Deus é o seu próprio ventre, a sede de poder - falsos profetas, falsos doutores, introduzindo encobertamente doutrinas de perdição, blasfemam do caminho da verdade e por avareza fazem das almas dos homens negócio com palavras fingidas, prometem-lhes liberdade, mas eles mesmo são servos da corrupção (2 Pedro 2:1-3 e 19). Investem fortemente, "percorrendo o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós" e ainda "fecham o Reino dos céus diante dos homens, não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo". (Mateus 23:13 e 15). São anticristos, que conforme sinaliza as escrituras, estão em nosso meio, se levantam e alçam suas vozes como paladinos da justiça, fazendo sinais e maravilhas enganadoras, porém rejeitam o amor e a verdade que os poderiam salvar (1 João 2:18 e 19; 2 Tessalonicenses 2:8-10; Mateus 24:24).
Porém o Espírito de Cristo em meio a tantas vozes contrárias, sussurra e convida homens e mulheres, com ousadia, para proclamar o Reino de Deus, que não é baseado em mandamentos, regras, preceitos e dogmas, mas sim em liberdade, justiça, paz e alegria no Espírito Santos (Romanos 14:17). Comprometidos com o espirito do Evangelho e com a doutrina dos Apóstolos de não se manter preso a uma tradição e religiosidade fingida, amando de palavra mas negando em atitude e verdade (1 João 3:18). Mantendo acesa a promessa de que o Senhor, matará o anticristo com o sopro de sua boca (2 Tessalonicenses 2:8),.
E assim, esperamos novos céus e nova terra onde habita a justiça (2 Pedro 3:13).