"Ele ainda falava a multidão, quando sua mãe e seus irmãos apareceram. Eles estavam do lado de fora, tentando mandar-lhe um recado. Foi quando alguém informou: 'sua mãe e seus irmãos estão aqui. Querem falar com o senhor'. Jesus não deu uma resposta direta, mas perguntou: Quem vocês acham que são minha mãe e meus irmãos?. Ele, então, apontou para seus discípulos. Olhem bem. Estes são minha mãe e meus irmãos. Mais vale a obediência que os laços de sangue. Quem faz a vontade de meu pai celestial é meu irmão, irmã e mãe" - Mateus 12.
Desde que o mundo é mundo, nunca houve uma família tradicional digna de porta retratos ou comercial de margarina como vociferam seus defensores. Basta algumas folhadas na Bíblia, de onde tiram esta ideia, para perceber que ela não se fundamenta e nem se sustenta. A maior parte das historias e tragédias na Bíblia acontecem no âmbito familiar: assassinatos, incestos, traições, maldições, mentiras, invejas, etc. Enredos dignos de novela das 21h.
Parece que os tais defensores tentam minimizar e esconder, mas, fato é, que o próprio Deus, para a encarnação do seu Filho, escolheu uma situação nada tradicional - uma moça com data de casamento marcada, ainda virgem, para de forma misteriosa aparece gravida. Um noivo supostamente traído, com seu orgulho e masculinidade feridos. Junte a tudo isso, uma sociedade que não perdoava tais atitudes: apedrejamento até a morte era a sentença para gravidas não casadas para o adultério ou para mulheres que na consumação do casamento, não tinham o lençol sujo com o sangue, prova de sua virgindade. A família de Jesus não tinha nada de convencional, já nasceu fadada a ser mau vista e mau falada pela vizinhança.
Na referencia que abre esta reflexão, Jesus não tem a intenção de desmerecer a família, mas como sempre, tentando elevar o tom da conversa,, diz abertamente que a obediência a Deus deve ser superior aos laços de sangue.
Quem mais, além de nossos familiares possuem o poder irrestrito de nos irritar?
Filhos desobedientes, pais omissos ou protetores demais, irmãos que são opostos e só faltam se matar, maridos que deixam a toalha molhada em cima da cama ou não levantam a tampa do vaso sanitário, esposas que não permitem o jogo de futebol nem as quartas e muito menos aos sábados.
Dizemos: "É sangue do meu sangue e me faz isto?"
Poderíamos enumerar aqui uma centena de situações que nos fazem desejar estar bem longe dos nossos familiares, de pedir divórcio e cortar os laços
É na família que os laços de sangue perdem o valor, tanto para o mau, quanto para o bem.
É no ambiente familiar que aprendemos a maior lição do evangelho: a Graça.
Neste ambiente emaranhado por amor e ódio que o fraco tem vez.
É nela que manifestamos amor por quem muitas vezes não merece.
Na família que as maiores lições do evangelho se tornam reais.
Por sua manutenção e pelo amor que temos uns pelos outros [e que é inexplicável] aprendemos a não levar em conta a multidão de pecados, perdoamos e somos perdoados, dividimos o pão, sofremos a perda, damos a outra face e a vida continua. A magoa, o rancor, a dor, podem permanecer por longos anos ou quem dirá por toda uma vida, mas, cedo ou tarde, o amor vence, mesmo que no ultimo suspiro ou já no cemitério.
O que infelizmente os cristãos deixaram de perceber é que quando Jesus ou qualquer outro profeta ou apóstolo fala de obediência a Deus, antes de mais nada, está está falando de amor, o maior de todos os mandamentos, o amor que é o vinculo da perfeição, o amor dom que é maior que as profecias, as línguas, a ciência e que será o único a permanecer. O amor, que é a essência de Deus.
Buscar o Reino de Deus e sua justiça, longe da assiduidade aos cultos, orar sem cessar e jejuar quarenta dias, é, antes de tudo, praticar atos de amor, contrariando a justiça deste mundo. E, em nenhum lugar isto acontece, melhor do que dentro da família.
Que possamos aprender isto, e assim como as várias famílias bíblicas acolher as fraquezas em amor, não despedindo ou deserdando os nossos - de sangue ou não - em favor de uma utopia anti-bíblica de família ou igreja perfeitas. É na busca de uma santidade fingida e de uma perfeição desumana, encontradas fora do amor que as maiores atrocidades acontecem, e elas só satisfazem o ego dos homens.
Que o fraco encontre na sua família, não a justiça humana baseada no olho por olho e dente por dente, mas a justiça de Deus em Cristo, que morreu para perdoar todos os pecados. N'Ele somos justificados.
Que nossa satisfação esteja em obedecer como Maria e José, que não se preocuparam com a própria reputação ou com os riscos que podiam sofrer e, contra o que diziam as leis, os mandamentos, os estatutos e códigos sociais da época, resolveram amar e formar uma família na fraqueza para que a graça de Deus se manifestasse a todas as famílias da terra.
Pense nisto ou melhor, aja assim!