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domingo, 28 de novembro de 2010

O DEUS DAS MINORIAS

Há mais de um mês conversava com um amigo sobre o tema “minorias” não me lembro porque iniciamos a conversa, mas em dado momento disse: “Na Bíblia há tantas referencias as minorias, ao cuidado com elas, que não consigo imaginar Deus hoje, após a morte de Jesus por TODOS sendo leviano a ponto de punir e desejar a morte e o inferno para alguém.”


Sei que o assunto tratado na conversa era direcionado a uma minoria em especial e que nestas ultimas semanas voltou às telas da TV com os ataques a homossexuais em São Paulo e no Rio de Janeiro. Não vou mais uma vez abordar a minha opinião sobre o tratamento dado pelos cristãos aos homossexuais, vou apenas expor uma passagem de um dos livros de Philip Yancey que reflete o meu pensamento a respeito: “Aprendi que os cristãos ficam muito irritados com os que cometem pecados diferentes dos seus.”

O termo “minorias” diz respeito a determinado grupo humano e social que esteja em inferioridade numérica em relação a um grupo majoritário e que se caracteriza por aspirar um modo de viver próprio que a distingue do conjunto e que, de certo modo, a põe à parte. Uma minoria pode ser étnica, religiosa, cultural, lingüística ou apenas pessoas que podem estar fora dos padrões culturais estabelecidos e por isso são marginalizados. O termo não indica necessariamente que seus membros sejam perseguidos ou dizimados pelo grupo dominante, embora haja numerosos casos de perseguição a minorias durante toda a história.

Analisando a Bíblia logo em seus primeiros capítulos, podemos perceber o peso colocado sobre mulheres que não podiam engravidar: Saara, Rebeca e Raquel. A cultura da época tratava com indignidade mulheres que não cumpriam “o seu papel”, eram apontadas pela sociedade e tidas como motivo de desonra em sua família, e por isso, seu esposo poderia ter outra mulher.

Mais tarde vemos o povo de Israel escravizado pelos egípcios, a forma mais conhecida de perseguição a minorias. O livro de Êxodo relata que Deus via a aflição do povo e conhecia o seu sofrimento.

É notório que Deus sempre levou a bom termo o tema das minorias, tanto que as mulheres tiveram filhos e o povo foi liberto da escravidão. E ao estabelecer as Leis que regeriam Israel, Ele pede ao povo para lembrar-se da graça que alcançaram, e assim, tratasse com justiça o pobre, aos órfãos, a viúva, ao estrangeiro e aos servos. Todos deveriam ser alvos da mesma graça, e os dispenseiros desta graça deveriam ser os próprios homens.

Os leprosos, cegos, republicanos, simples mulheres, viúvas, prostitutas, órfãos e os pobres foram alvos do ministério de Jesus. Todos estes marginalizados, minorias das quais os religiosos não cuidavam, e por isso foram enfaticamente criticados por Jesus, ele disse: “Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos procedem no reino de Deus” – Mateus 21:31 - Aqueles que deveriam ser os dispenseiros do favor divino foram os que criaram leis e mais leis para subjugar as minorias, criando uma cultura de castas, machista, das quais alguns comentaristas bíblicos dizem que havia uma oração que dizia: “Obrigado porque nasci judeu e não nasci mulher.”

Durante toda a história percebemos que a religião teve grande importância na formação cultural da sociedade, sendo co-responsável por avanços maravilhosos e também por várias situações desagradáveis, ou melhor, desumanas, com àqueles que não se enquadravam em seus ensinamentos, muitas vezes deturpados e desprovidos de revelação e inspiração divina e muito mais pautado em tradições sócio-culturais.

Temos o conhecimento de punimentos de todos os tipos: físicos, psicológicos ou até mesmo penas de morte em nome de Deus e feito pela própria igreja, porém a ordem divina permaneceu a mesma, o Apostolo Tiago escreveu: “A religião pura e sem macula para com nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.” [Noto que a preocupação com as minorias vem antes da preocupação com a santidade]

O que dizer da perseguição, escravidão e posterior destruição de sociedades indígenas, da escravidão dos negros, do Holocausto, o Apartheid e a perseguição aos chamados intocáveis na Índia. Onde estava a igreja? Como diz o dito popular: Quem cala, consente!

Mais recentemente e dentro das próprias igrejas podemos citar a discriminação aos divorciados, as mães solteiras e homossexuais. Alguém pode dizer: Mas são pecadores! Porém ecoa sem ser ouvida a voz de Jesus:

”O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar as pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, por em liberdade os oprimidos, e anunciar o ano aceitável do Senhor.” – Lucas 4: 18-19

“Não necessitam de médicos os sãos, mas sim, os doentes. Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” – Mateus 9:10-13

O erro da igreja é se calar, colocar-se como julgadora ou como dona absoluta da verdade, ao invés de intervir como dispenseira da graça, manifestando misericórdia e amor, sendo guiada pelo mesmo sentimento de Cristo, o de servir. Se esquecem da exortação do Apostolo Paulo: “Cristo morreu a seu tempo pelo ímpio. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” – Romanos 5:6-8

A igreja precisa olhar para seus erros passados, para acertar seus passos hoje, precisa olhar para Martin Lutther King, Madre Tereza, Gandhi e Nelson Madela. Temos muito que aprender com eles, pois foram dispenseiros da graça de Deus quando a igreja se calou.

Precisamos lembrar que um dia, fomos minoria, e perseguidos sem causa pelo poderio de Roma, e assim cumprir a ordem dada por Deus a Israel: Lembre-se que foram estrangeiros no Egito.

Entendo que o papel da igreja é acolher os que foram “chamados para fora”, como fez o Samaritano, sejam quem for, e em qual situação estiver. Porém enquanto a igreja quiser converter as pessoas e moldá-las a sua própria cultura, não haverá espaço para que Deus transforme os corações e molde as pessoas a sua cultura que é a manifestação do seu amor.

“Ai não se faz mais distinção entre o grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo, livre, porque agora o que conta é Cristo, que é tudo em todos.” – Colossenses 3:11


Pense nisso!

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