Tudo o que é exagerado não é bom. A Bíblia nos indica várias vezes a sermos moderados, temperantes, pessoas sóbrias e equilibradas em todas as relações das nossas vidas, pois assim não seremos presas fácil para o nosso adversário – 2 Pedro 5:8. Ela nos indica a não sermos demasiadamente justo, nem exageradamente sábios – Eclesiastes 7:16 – nos aconselha a nos vestirmos de maneira adequada, valorizando as virtudes interiores, mais que as roupas e acessórios – 1 Pedro 3:3-4 – e nos adverte a não pensarmos de nós mesmos, mais do que verdadeiramente somos – Romanos 12:3 – e isso é só o começo.
Jesus certa vez disse aos seus discípulos:
Vós sois ao sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa – Mateus 5: 13-15.
Jesus tratou aqui de coisas obvias, se o sal não tem sabor, não serve para nada, não cumpre o seu propósito de dar sabor ao alimento, assim como a lâmpada acesa e escondida, não ilumina ninguém.
Mas não podemos esquecer que se salgarmos uma comida, ela ficará impossível de se comer, e se ao invés de uma lâmpada ligamos um holofote, podemos ofuscar a visão da pessoa, impedido que ela enxergue. A falta e o exagero, em ambos os casos, são prejudiciais, isso indica que tudo tem sua medida certa, seu equilíbrio.
Podemos perceber esse equilíbrio na vida de Jesus que era 100% homem, participante da carne, sangue e sujeito as mesmas paixões que nós – Hebreus 2: 14-18 – mas que não pecou cedendo aos desejos e impulsos da carne, como também era 100% divino pois nele habitava toda a plenitude Divina – Colossenses 2: 9 – e nem por isso destruiu seus adversários quando necessário, agindo pela justiça divina.
Acredito que por este motivo Jesus não simpatizava com os religiosos da época, eles eram desequilibrados em sua espiritualidade, eram exagerados em seu legalismo, e com isso impediam que as demais pessoas se achegassem a Deus. Jesus disse: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando – Mateus 23:13.
Vemos na vida dos discípulos, o Espírito Santo os conduzindo a este equilíbrio, quando mostra em visão a Pedro a vontade de Deus de salvar também os gentios, revelando a ele que aquilo que Deus purificou, não pode ser considerado imundo, e em conseqüência disto muitas famílias dos gentios foram alcançadas e as palavras de Jesus para evangelizar o mundo pode ser realizada.
Mas será que nós discípulos de Jesus entendemos a mensagem por trás da mensagem?
Temos na história do Cristianismo tantas situações desagradáveis pela falta de equilíbrio. Os exageros cometidos pela Inquisição em nome de um zelo doentio por Deus e levou a morte milhões de pessoas inocentes; a cobrança de Indulgências que levou a falência famílias inteiras; a morte na fogueira e em outras formas de tortura, de muitas pessoas que não eram contrárias a Bíblia, mas contrárias a religião dogmática e impositiva, que fechava os olhos para coisas obvias. Mas também percebemos a falta de ação da igreja: Onde ela estava quando milhões de negros foram escravizados e torturados? Quando índios foram dizimados em toda a América? Quando Hitler com seu Nazismo se fortaleceu e destruiu milhares de vidas? Sem contar no Apartheid, Comunismo na China, Guerras Santas e a omissão dela em relação aos padres pedófilos.
Não muito distantes de nós vemos essa guerra entre a falta, o equilíbrio e o exagero: igrejas cheias de dogmas e legalismos afastam e expulsam pessoas impedido a comunhão, outras são tão liberais que mais parecem um clube aquático em dia ensolarado; pastores que se consideram “seres especiais” cometem toda sorte de abuso espiritual e psicológico contra seus seguidores, e pessoas que idolatram seus lideres a ponto de tatuar em seu corpo não somente nomes, mas a imagem destes jurando fidelidade a eles a instituição que representam; estruturas eclesiásticas sendo mantidas na base da imposição exagerada da obrigação do dizimo e da oferta, levando pessoas a entregarem aquilo que não possuem quando o censo informa que a maior parte dos cristãos evangélicos no Brasil, são pessoas de baixa renda, quase na linha da miséria; Pastores sendo presos, acusados de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito, compram aviões e mansões no exterior enquanto muitos dos seus seguidores estão desempregados e moram de aluguel; a pregação exagerada da prosperidade a todo custo, da conquista e do triunfo do cristão sobre seus inimigos os não-cristãos, levando as pessoas a se torarem arrogantes, amantes do dinheiro e criando uma competitividade maligna dentro da própria comunidade cristã. Sem falar nas pouquíssimas igrejas que investem seus recursos para melhorar a vida dos pobres e necessitados enquanto mostram na TV o quanto freqüentar determinada igreja pode mudar para melhor a vida de alguém com carros, casas e dinheiro.
Qual o resultado disso tudo?
Aqueles que deveriam dar sabor estão salgando em excesso, e os que querem ser alimentados não conseguem ingerir o cardápio que a igreja tem oferecido, alguns até levam a boca, para logo cuspir e ir beber água em outro lugar, ao invés de beber da Fonte de Águas vivas. Os que deveriam iluminar e mostrar o caminho, querem brilhar tanto que estão ofuscados em sua própria claridade, e com isso ofuscam a visão e impedem que os perdidos enxerguem o caminho, são cegos guiados cegos.
Perdemos completamente o equilíbrio de Cristo que é baseado no amor que perdoa, mas não deixa de dar a correção; que revela a graça, mas age com justiça; que não faz distinção de pessoas, mas conhece os que são verdadeiramente seus.
Voltemos ao equilíbrio, como Paulo pelo Espírito de Deus nos adverte: Ore com o espírito, mas também com a mente, cante com o espírito, mas também cante com a mente – 1 Coríntios 14: 15.
Disse Jesus: Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus - Mateus 5:20.
Pense nisso!